Facções do RJ e de SP estão em guerra com traficantes independentes na fronteira do Brasil com Paraguai
Grupos tentam o monopólio da
distribuição de drogas na região entre os países
Mario
Hugo Monken, do R7, no Rio
Foto por Wilton Junior/AE
As duas
principais facções criminosas brasileiras - o grupo ligado ao traficante
fluminense Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e a
quadrilha que atua a partir dos presídios paulistas - estão em guerra
com narcotraficantes independentes na fronteira do Brasil com o Paraguai
na região do Mato Grosso do Sul, segundo informações da Polícia
Federal.
Facções do Rio e de SP estão em conflito
com traficantes no Paraguai
A disputa ocorre porque as organizações criminosas montaram base em cidades na fronteira, como Pedro Juan Caballero e Capitán Bado, para assegurar o monopólio da distribuição de cocaína e maconha para os mercados consumidores do Rio de Janeiro e de São Paulo. A presença desses grupos acirrou a rivalidade com os traficantes que atuavam na região há mais tempo, entre eles um criminoso conhecido como Cabral Arías, atualmente o principal inimigo dos brasileiros na região. E o resultado é o aumento da violência: várias mortes aconteceram nos últimos dois anos. De acordo com a polícia, muitos integrantes das duas facções também fazem negócios com narcotraficantes locais, mas muitos não pagam e acabam mortos.
A rivalidade veio à tona na semana passada quando o traficante paraguaio Oscar Morel foi assassinado com cerca de 50 tiros em Pedro Juan Caballero, na última quarta-feira (10). Morel, que já foi ligado a um poderoso traficante da fronteira, teria sido morto a mando de um dos chefes do grupo paulista na região, conhecido como Capillo, que está preso.
As quadrilhas costumam, inclusive, prestar informações à polícia sobre os inimigos e isso também já resultou em mortes. Em dezembro passado, após a prisão de Capillo, pelo menos cinco homens foram assassinados na região por suposta vingança relacionada à captura do criminoso.
Estratégia
Segundo a polícia, os integrantes das facções carioca e paulista costumam alugar casas em Pedro Juan Caballero e Capitán Bado, onde montam suas bases. Um agente informou ao R7 que o interesse pela fronteira com o Paraguai está relacionado ao fato de o país ser o principal produtor de maconha na América do Sul, além de um corredor para a entrada da cocaína boliviana e colombiana no Brasil.
Um policial rodoviário que trabalha em Ponta Porã (MS) contou que os integrantes das facções brasileiras mandam de duas a três pessoas para a fronteira e elas ficam responsáveis por recrutar outras para fazer parte do bando. E os grupos, segundo esse patrulheiro, também enviam carretas e carros roubados para serem trocados por armas e drogas na fronteira.
- Uma carreta de 2008, por exemplo, é vendida na fronteira por cerca de R$ 40 mil. Um fuzil é negociado por US$ 7.000 (cerca de R$ 14 mil).
Segundo o patrulheiro, apesar de não se atacarem, as facções atuam em áreas definidas e ninguém invade a da outra.
- Em Capitán Bado, reina a maconha. Lá a facção paulista atua. Em Pedro Juan Caballero, que é corredor da cocaína, agem as duas.
A atuação da facção carioca no Paraguai ficou evidenciada em setembro passado, quando dois traficantes ligados ao grupo foram presos em Ciudad del Este, que faz fronteira com o Paraná. Segundo investigações, eles se estabeleceram no local e, de lá, intermediavam o envio de maconha para favelas cariocas. Foram responsáveis também pelo envio de 90 fuzis para o Rio.
O que diz a Polícia Federal
Procurada pelo R7, a assessoria de imprensa da PF em Brasília informou que, em razão de o Mato Grosso do Sul ser uma rota de entrada de cocaína e maconha, é natural a presença de traficantes brasileiros em cidades paraguaias que fazem limite com municípios sul-mato-grossense, bem como a rivalidade dos mesmos com criminosos do país vizinho. A PF, no entanto, não comentou o vínculo dos criminosos com facções criminosas.
A corporação iniciou, no último dia 8, a operação Sentinela, que visa desenvolver atividades operacionais de controle, fiscalização e inteligência policial, em conjunto com equipes de policiais e servidores de outros órgãos, como a Força Nacional de Segurança Pública. O objetivo é melhorar a prevenção e a repressão aos crimes transnacionais praticados ao longo de toda fronteira brasileira, como tráfico de drogas e de armas, contrabando, evasão de divisas, imigração ilegal e exportação ilegal de veículos.
Em uma das ações, na ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com o Paraguai, foram apreendidas na última sexta-feira (12) 550 munições.