Traficantes oferecem
royalties de pó ao Rio
NELITO FERNANDES
Nelito
Fernandes
Repórter da sucursal Rio de ÉPOCA,
escritor, autor teatral e roteirista da TV Globo. Nesta coluna tenta
misturar humor e opinião comentando o noticiário, embora admita que na
maioria das vezes é difícil manter o humor
Numa reviravolta surpreendente no caso dos royalties, traficantes de todas as facções criminosas ofereceram ao governo do Rio participação na venda de drogas no estado.
A decisão foi anunciada ontem após uma reunião de cúpula dos bandidos na favela do Mico Trincado, Zona Norte da cidade.
“Eu acho que é justo a gente colaborar com o Rio nesse momento difícil. No fim das contas acho que vai dar até um pouco mais. O sistema é exatamente o mesmo do petróleo: a gente explora aqui e tem que dar essa compensação”, disse o traficante Dedé das Candongas, apresentando o slogan do movimento: “A economia do Rio não pode virar pó”.
Em troca, os bandidos pediriam o fim das UPP (Unidades de Patolamento Policial). “É justo porque a gente tem que ter condições de faturar”, explicou o traficante, que usava o bottom da campanha “Mexeu com o Rio, mexeu comigo. Vai encarar?”.
A guerra pelos royalties foi motivo de uma grande passeta no Rio de Janeiro na semana passada. Num dia chuva, 150 mil pessoas foram até a Cinelândia (se houvesse sol, todo mundo iria à praia). Os manifestantes levaram cartazes de protesto. “Ibsen, vê se te emenda” e “Tá pensando que royaltie de bêbado não tem dono?” e “Bons tempos aqueles em que os políticos roubavam nosso dinheiro escondido”. O Rio pode perder até R$ 7 bilhões anuais se a emenda for aprovada. “Eu só não entendi uma coisa: se a gente tem tanto dinheiro, onde é que ele vai parar?”, disse um manifestante.