Crescimento "esmagou" plano original de Brasília
Falta de planejamento contínuo fez a
cidade enfrentar problemas de grandes metrópoles
Mônica
Aquino, do R7
Foto
por Arquivo/AE
Erguida no meio do
Planalto, Brasília teve o privilégio que poucas cidades no mundo
tiveram: partiu do zero. Foi pensada e planejada e, depois,
concretizada. O projeto da capital federal previa no máximo 500 mil
habitantes, mas esse número hoje saltou para 2,5 milhões de pessoas.
Brasília também não foi pensada para ser uma grande metrópole, mas
passou a sofrer dos mesmos males de outras grandes cidades: trânsito,
superpopulação, desigualdade social e especulação imobiliária. E é
assim, enfrentando essas e outras contradições, que a capital federal
chega aos 50 anos.
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mais fotos dos 50 anos de BrasíliaMultidão se aglomera na
inauguração de Brasília
Apesar de todos os problemas, Milton Braga, professor do Departamento de Projetos da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), afirma que o projeto urbanístico de Brasília não pode ser considerado fracassado.
- Brasília, para ser um sucesso absoluto, dependeria do Brasil ter sido um sucesso. Ela [Brasília] é a expressão do fracasso do país, não o fracasso dela mesma.
Braga, autor do livro O Concurso de Brasília: Sete Projetos para uma Capital, defende que o projeto de Lúcio Costa não pode ser taxado de "certo ou errado". Para ele, o maior problema da capital federal foi ter abandonado o planejamento contínuo. O professor afirma que para uma cidade não ter problemas urbanísticos é necessário um planejamento constante. A alta taxa de urbanização do país, unida à falta de planejamento econômico, também prejudicou o plano inicial feito para Brasília.
- O Brasil teve uma taxa de urbanização vertiginosa. O crescimento foi alto em São Paulo, Rio, Salvador, sobretudo nas grandes cidades. Acho que qualquer planejamento seria incapaz de regular e ordenar esse crescimento vertiginoso [...]. Isso é uma característica do século 20, as pessoas começaram a desejar fortemente morar em cidades, porque têm mais oportunidades, os serviços são incomparavelmente melhores.
Entre os problemas enfrentados pela população de Brasília está a falta de um sistema eficiente de transporte urbano. A essa deficiência, unem-se as grandes distâncias, provocadas pela divisão da cidade em setores.
Frederico de Holanda, professor da FAU-Unb (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília), afirma que o maior problema da capital federal são as longas distâncias e a necessidade de grandes deslocamentos.
Ele nega, no entanto, que as cidades-satélites que cresceram ao redor de Brasília tenham surgido de ocupações irregulares e totalmente desordenadas.
- O entorno todo de Brasília é planejado. A decisão de construir as cidades-satélites foi de um governo.
Apesar das dificuldades enfrentadas pela capital, o professor da UnB afirma que todos são problemas circunstanciais, que podem ser revertidos.
- Um dos maiores problemas de Brasília, que é essa dispersão territorial, também é um dos maiores recursos. Nós temos muito espaço para resolver os problemas, equipando espaços, construindo habitações. Tem muito espaço no Plano Piloto para construir mais habitação, para mais gente morar mais perto do trabalho. O problema é que os interesses contrários a isso são muito fortes. Tem sempre uma política elitista e arrogante que, historicamente, ao longo dos 50 anos, jogou os pobres para a periferia e fez do Plano Piloto apenas o nicho da elite.