PULSEIRAS DO SEXO PROIBIDA PELA CÂMARA DE LONDRINA

PAULO MELO CORUJA NEWS........ 

Londrina

"Pulseirinhas do sexo" revelam crise de valores e falta de educação sexual

É o que defendem especialistas ouvidos pelo JL. Carência e necessidade de ser aceito pelo grupo são apontados como motivos que levam crianças e adolescentes a usarem os acessórios
   
Fábio Luporini 

A polêmica envolvendo um simples acessório utilizado por crianças e adolescentes, revela, na realidade, uma crise de valores e falta de educação sexual. É o que defendem especialistas ouvidos pelo JL. Carência e necessidade de ser aceito pelo grupo são apontados como motivos que levam crianças e adolescentes a usarem as chamadas “pulseiras do sexo”, objetos coloridos em que cada cor tem uma conotação sexual. A utilização dos acessórios revela ainda o contexto familiar.
A discussão veio à tona depois que uma menina de 13 anos foi estuprada, na semana passada, por quatro rapazes ao ter uma “pulseirinha do sexo” arrebentada. A menina teria saído voluntariamente do Terminal Urbano de Londrina com os adolescentes e ido até a casa de um deles, onde o estupro ocorreu. Ela teria sido violentada pelos quatro. A garota passou a ser acompanhada por uma psicóloga e, mesmo assim, realiza suas atividades cotidianas normalmente.
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Proibição de uso e comercialização
Na quarta-feira (31), a Justiça de Londrina proibiu o uso e comercialização dessas pulseirinhas por adolescentes menores de 18 anos. A determinação foi do juiz da Vara da Infância e Juventude de Londrina, Ademir Ribeiro Richter. Além disso, recomendou aos pais e diretores das escolas que proíbam as crianças e adolescentes de usarem os acessórios em qualquer ambiente. Na tarde desta quinta-feira (1º), a Câmara de Vereadores, que iniciou a discussão sobre a proibição, aprovou projeto de lei, em primeira discussão, que proíbe a comercialização das pulseirinhas.
“Alguns valores acabam se perdendo. O que percebo é a necessidade do jovem querer pertencer a um tipo de grupo”, avaliou a psicóloga Milene Thomas. Segundo ela, hoje em dia há muita carência nessa faixa etária. “É uma atitude desesperada para querer buscar algo no lado afetivo e pessoal”, definiu Milene. Para ela, quem usa a pulseira conscientemente do significado, quer demonstrar ao outro que “está disponível”.
Crianças e adolescentes, na avaliação da psicóloga, estão expostos cada vez mais cedo ao sexo pela televisão, que demonstra modelos específicos a serem seguidos. “Os pais passam menos tempo com seus filhos e dessa forma o acesso à informação é maior”, disse Milene. Segundo ela, o fato de usar a pulseira e participar do jogo sexual “tem a ver com o contexto familiar”. “Depende muito do que a família permite, ensina ou mostra. O jovem está preparado para fazer sexo somente depois de certa idade Não com 12, 13, 14 anos. Se ocorre muito cedo, torna-se banal.”
Para a diretora educacional do Colégio Londrinense, a pedagoga Ieda Terra Alves Gomes, a pulseira “banaliza a educação sexual”. “A educação sexual serve para o adolescente ver o sexo em sua beleza. As pulseirinhas banalizam os relacionamentos e o ato sexual, visto como mecanismo de troca. Isso quebra todos os princípios e valores da boa educação”, declarou. De acordo com Ieda, justamente porque a criança e o adolescente não têm noção das consequências, educadores e pais devem “ter uma postura firme e esclarecedora”.
O colégio, que tem uma educação cristã, já havia tomado ciência dos acessórios e, desde então, trabalhava com a conscientização dos alunos para, em seguida, proibir o uso. “Estávamos conversando e conscientizando. Mas com esse incidente, cortamos radicalmente. Só a conscientização não estava adiantando”, justificou. “Precisamos resgatar valores dentro das famílias e escolas”, afirmou. De acordo com ela, pais e escola precisam estar atentos aos modismos. “Muitos pais não sabiam do significado e alguns que conheciam, não deram importância”, disse.
Para a promotora da Vara da Infância e juventude, Édina Maria de Paula, a falta de educação sexual tanto nas escolas quanto dentro da família aguça a curiosidade da criança e do adolescente, que vai buscar respostas em outros locais. “A criança e adolescente aprendem sobre sexo fora de casa, com os colegas na rua. Dessa forma, não avalia o risco e as consequências de situações como essa”, afirmou. Segundo a promotora, aprofundar a discussão é importante, principalmente porque crianças e adolescências não avaliam os riscos que correm.
Um jovem de 18 anos, que preferiu não se identificar, contou que duas primas dele – uma com 8 e outra com 10 anos – apareceram com as pulseirinhas coloridas em janeiro. “Elas compraram sem saber o significado. Mas daí a mãe delas e a avó ficaram sabendo e proibiram de usar. Graças a Deus não teve nenhuma abordagem”, contou.