TENSÃO NO EGITO AUMENTA ...MUBARAK FICA NO GOVERNO ATÉ SETEMBRO

PAULO MELO CORUJA NEWS


'Não sabemos o que pode acontecer no próximo minuto', diz egípcio

'As pessoas não querem que Mubarak fique mais', diz Ahmed Haggag.
Egípcio que viveu no Brasil relata clima após discurso do presidente.

Amauri Arrais Do G1, em São Paulo
Um clima de tensão e incerteza se espalhou pelo Cairo após o discurso do presidente Hosni Mubarak nesta quinta-feira (10), em que ele reafirmou que continuará no cargo, frustrando a expectativa de milhares de manifestantes antigoverno que permanecem nas ruas, descreve o egípcio Ahmed Haggag.

“Todo mundo está com muita raiva do que ele falou. Todos pensavam antes do discurso que ele ia deixar o governo, que ia sair do país hoje. As pessoas não querem que Mubarak fique por mais tempo. Estão gritando que ele vá embora e Omar Suleiman, também. Muitos estão falando em ir até o palácio presidencial. Não sabemos o que pode acontecer no próximo minuto”, contou ao G1, por telefone, o egípcio, que já viveu em Brasília e retornou ao país há quatro meses.
Manifestantes antigoverno reagem ao discurso do presidente Hosni Mubarak, na praça Tahrir (Foto: Dylan Martinez / Reuters)Manifestantes antigoverno reagem ao discurso do presidente Hosni Mubarak, na praça Tahrir (Foto: Dylan Martinez / Reuters)


Segundo Haggag, é impossível prever se vai haver um novo acirramento nos protestos nas ruas, que já deixaram ao menos 300 mortos segundo a ONU. “É normal que o povo fique com muito mais raiva. Não estamos trabalhando, não tem polícia nenhuma nas ruas”, diz.
Ele descarta, no entanto, que o Exército, que bloqueia o acesso ao palácio presidencial, reaja contra a população, como sugeriu, em discurso na quarta, o vice-presidente Omar Suleiman.

“Perguntei a um militar hoje o que eles fariam se o governo mandar que eles atirem nas pessoas que estão na praça [Tahrir, epicentro dos protestos]. Ele disse que tem muitas pessoas na presidência que querem que os militares façam isso, mas que eles não vão fazer. Eles também têm pais, irmãos e filhos”.

Haggag contou ter deixado a praça Tahrir, onde muitos amigos permanecem acampados, para acompanhar o discurso do presidente com a família, no bairro Heliopolis. O local, ele diz, fica a cerca de 50 metros do palácio presidencial e da residência oficial.
mapa do egito com dados (Foto: Editoria de Arte / G1)(Editoria de Arte / G1)
De acordo com o egípcio, a extensão da crise, que atingiu o 17º dia nesta quinta, tem deixado a população cada vez mais revoltada, devido à paralisação do trabalho e ao alto preço dos alimentos. “O Egito nunca teve isso. Se você sair na rua e perguntar a cem pessoas se elas querem que o presidente continue, 99 vão dizer que querem que ele saia. Alguns ainda defendem que ele fique com medo que o país entre em guerra ou algo assim”, disse.

Haggad, que trabalha numa empresa que fornece produtos importados a restaurantes e hotéis, diz que voltou a trabalhar alguns dias, mas “não recebeu nenhuma ligação”. “Os hotéis estão com zero hóspedes. Agora não tem turista nenhum. Nas pirâmides, não vemos ninguém. Não tem nada para fazer.”