RECICLAGEM É FUNDAMENTAL

Reciclagem é fundamental para sociedade sustentável Por Ana Paula Galli, especial para o Yahoo! Brasil O dia começa cedo para Renato Gonçalves. Ainda de madrugada, por volta das cinco horas, ele sai da sua casa no Sacomã, bairro da zona leste da cidade de São Paulo para trabalhar. À bordo da Kombi ano 1982 o catador de papel de 29 anos segue rumo aos bairros da Zona Oeste, onde recolhe materiais recicláveis desde 2005, quando começou na profissão. "Eu tava sem emprego já tinha mais de um ano, só fazia bico. E aí veio a idéia de catar lixo", conta. No início Renato conta que passava apenas em empresas. Com o tempo, percebeu que, se fizesse acordos com os moradores de prédios da região, poderia gerar uma boa renda para a família. Hoje o catador conta que recolhe papel e papelão diariamente em 16 edifícios residenciais de bairros como Pompéia, Perdizes e Vila Madalena. "Os moradores gostam, agradecem. Muita gente já me conhece até pelo nome. Eles me ajudam e eu ajudo eles", explica. Com o trabalho, Renato garante a sobrevivência dos dois filhos, que são criados por ele. "Não digo que a vida nessa profissão é fácil, mas só de eu conseguir alimentar meus filhos já é suficiente para eu ficar satisfeito". Apesar de ser pouco reconhecido pela sociedade, o trabalho realizado por Renato e por outros inúmeros catadores é uma forma não só de sobrevivência mas também de ajuda na recuperação do meio ambiente, que recebe diariamente cerca de 115 mil toneladas de lixo só no Brasil. Segundo o Instituto Akatu, organização que defende o consumo consciente, em uma cidade como São Paulo a produção de lixo por pessoa pode chegar a 1,3 quilo por dia, quase meia tonelada ao fim de um ano. Essa grande quantidade de lixo é resultado do consumo crescente. Quanto mais se consome, mais lixo é produzido. Cerca de 30% do resíduo é composto de materiais recicláveis como papel, vidro, plástico e latas. Tirar esses materiais do lixo traz uma série de vantagens como a economia de recursos naturais e de energia que se obtêm com a reciclagem. Mas o processo ainda é incipiente no Brasil. E a principal vítima é a natureza. Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) mostram que, se o mundo continuar consumindo no mesmo ritmo, em pouco mais de cem anos os recursos naturais acabarão. "Não dá para continuar vivendo como se tivéssemos cinco ou seis planetas Terra para consumir", afirma Cecília Ugaz, diretora do Pnud (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas) e coordenadora do relatório de desenvolvimento humano da ONU. "É preciso educar a população para mudar de comportamento. Promover uma adaptação para a mudança por meio da educação no padrão de consumo é a única saída para o planeta", diz. Reduzir, reaproveitar e reciclar De acordo com o Instituto Akatu, um terço de tudo que a sociedade consome vai para o lixo. "Acabar com o desperdício implicaria uma mudança cultural. Adaptar a política da fartura e passar a aproveitar o que vai para o lixo como talos e folha é um importante passo", afirma o diretor do instituto, Helio Mattar. Aproveitar alimentos, economizar água e energia, preferir transporte público e localizar pontos de reciclagem é uma tarefa relativamente fácil. Basta consciência na hora de acender a luz, de tomar banho ou de usar o carro, um pouco de criatividade para elaborar novos pratos com os alimentos que antes iam para o lixo e firmar parcerias entre condomínios e cooperativas de reciclagem. Mas o que fazer com o alimento que não foi reaproveitado? E produtos extremamente prejudiciais ao meio ambiente como óleo de cozinha, baterias de eletrônicos e pilhas? Em países como Suíça, França e Alemanha leis rígidas obrigam empresários e consumidores a se responsabilizarem pelos produtos após seu uso, evitando que eletrônicos, eletrodomésticos, óleos e uma infinidade de outros produtos sejam depositados em locais não apropriados, evitando assim prejuízos ao meio ambiente. No Brasil as iniciativas ainda são pontuais. O Grupo Pão de Açúcar oferece aos clientes 150 pontos de coleta de materiais recicláveis como papel e plástico. Recentemente, o óleo de cozinha foi incluído no programa, que recebe mensalmente cerca de 10 mil litros do produto, que é transformado em biocombustível, evitando a contaminação de mananciais e rios. Em iniciativa parecida, o Banco Real desenvolve desde 2006 o programa Papa-Pilhas, que permite que o consumidor deposite pilhas e baterias em postos de coletas nas agências do banco, o que ajuda a evitar a poluição do solo pelo descarte indevido desses produtos. A Motorola, com seu programa mundial para descarte adequado de acessórios e aparelhos fora de uso, possui 120 pontos de coleta nos estados brasileiros, que ficam nas lojas do serviço autorizado. No Brasil, foram recolhidos 280 toneladas de componentes eletrônicos nos últimos dez anos. Apesar da falta de regulamentação, em São Paulo, uma lei pioneira recém-sancionada pelo governador José Serra institui regras para o gerenciamento do lixo tecnológico. A idéia do projeto é que o consumidor entregue o equipamento usado na loja em que foi adquirido, e o comerciante encaminhe para o produtor, que ficaria responsável pela reciclagem. A importância do descarte correto Não se importar em reaproveitar e simplesmente descartar produtos não significa apenas acumular montanhas de lixo nos depósitos espalhados pelo país. Significa também sobrecarregar a natureza com a responsabilidade de decompor materiais que às vezes demoram até 1 milhão de anos para desaparecer. Veja a seguir o tempo que alguns materiais demoram para ser decompostos. Papel - de 3 meses a anos Palito de Fósforo - 6 meses Filtro de Cigarro - 5 anos Chiclete - 5 anos Latas de Aço - 10 a 50 anos Lata de Alumínio - mais de 1.000 anos Nylon - mais de 30 anos Copo Descartável - 50 anos Garrafa Plástica - 400 anos Tampa de Garrafa - 150 anos Tecido - 100 a 400 anos Fralda Descartável Comum - 450 anos Pneus - mais de 100 anos Embalagens Longa Vida - mais de 100 anos Vidro - 1 milhão de anos Fonte: Instituto Akatu e Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro