Escândalo
Rede familiar é duto de desvio
Um grupo foi usado para desviar R$ 20 mi.
Casa tem 10
Rosana Félix
De acordo com as reportagens da série “Diários Secretos”, pelo menos R$ 30 milhões foram desviados da Assembleia entre 2004 e 2009. O dinheiro foi usado para pagar salários e benefícios a dezenas de apadrinhados do ex-diretor-geral da Casa Abib Miguel – um dos presos no sábado, na Operação Ectoplasma 1 do MP – e do presidente Nelson Justus (DEM).
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RPCTV
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Os três ex-diretores da Assembleia Legislativa do Paraná presos no fim de semana, se calaram durante os depoimentos prestados ontem aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Abib Miguel, ex-diretor-geral, José Ary Nassiff (administrativo) e o ex-diretor de Recursos Humanos Cláudio Marques da Silva se valeram do direito de permanecerem calados e não responderam a nenhum questionamento sobre a investigação.Leia a matéria completa
De acordo com o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Leonir Batisti, a conexão da família Leal foi usada para os desvios já comprovados de R$ 20 milhões. Nair e Maria confirmaram que nunca trabalharam no Legislativo estadual, apesar de constarem da lista de funcionários divulgada em 2009 pela Assembleia.
As agricultoras Jermina Leal e Vanilda Leal – irmã e sobrinha de João, respectivamente, que também foram presas – responderam às perguntas do MP, mas não acrescentaram nada às investigações. Elas continuam detidas. Em março, elas afirmaram à reportagem da Gazeta do Povo e da RPCTV que nunca tinham trabalhado na Assembleia. Elas moram em uma casa de chão batido em uma comunidade pobre de Cerro Azul (a 100 quilômetros de Curitiba) e são beneficiárias do Bolsa Família.
Para tentar garantir a devolução do dinheiro desviado, o MP solicitou à Justiça o bloqueio de R$ 23 milhões em bens de Mattos, de Bibinho e dos ex-diretores José Ary Nassiff e Cláudio Marques da Silva, também presos na operação. Esse valor cobriria os recursos extraviados e multas.
Abib Miguel, que ocupava a diretoria-geral da casa desde o início dos anos 80, tinha uma grande rede de apadrinhados. Além de João Leal de Mattos, ele beneficiou uma cunhada e outras três famílias: a de Daor Afonso Marins de Oliveira; de Douglas Bastos Pequeno; e de Izidoro Vosilk. Dias após o início da série “Diários Secretos”, em 15 de março, Bibinho pediu afastamento de suas funções.
O presidente da Assembleia, Nelson Justus, que nega qualquer irregularidade, também tem uma grande rede de apadrinhados. Dois de seus assessores próximos – Sérgio Roberto Monteiro e Luiz Alexandre Barbosa – empregavam pelo menos 32 parentes na Casa. Justus também tinha como funcionária Dóris Tozetto, que junto com o marido, Cezar Tozetto e Jean Colbert Dias (ex-advogado de Justus), foram presos no litoral do Paraná em novembro do ano passado por extração ilegal de palmito. O casal foi exonerado da Assembleia logo depois que o caso veio à tona. Justus também tem outras conexões em Guaratuba. José Rocha Neto é sócio dos filhos de Justus (Roberto e Nelson Júnior) em um escritório de advocacia que venceu licitação para elaborar plano de cargos da Câmara de Vereadores de Guaratuba.
Diários secretos
As dez redes mapeadas pela reportagem da Gazeta do Povo e da RPCTV mostram o envolvimento de pelo menos 50 pessoas. As nomeações e exonerações delas constam, na maioria das vezes, de diários “avulsos” – documentos oficiais sem numeração e sem data, o que impossibilita a fiscalização das decisões tomadas na Casa do Povo.
No começo deste mês a Assembleia exonerou 237 servidores, dos quais 22 tinham relação com a série “Diários Secretos”. A iniciativa, no entanto, não pode ser considerada moralizante. As demissões constam de diários oficiais dos dias 5, 6 e 7 de abril, mas são retroativas ao início de março.
Veja todas as denúncias feitas pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV sobre os Diários Secretos da Assembleia Legislativa.