COMO EX..LULA FAZ SEU PRIMEIRO COMÍCIO NA VOLTA PRA CASA

PAULO MELO CORUJA NEWS

Já precedido pelo prefixo ‘ex’, Lula faz seu 1º comício

Sérgio Lima/Folha

Já com o peso do prefixo “ex” a esmagar-lhe o título de presidente, Lula fez sua derradeira viagem no avião presidencial.

Foi para casa, em São Bernardo (SP), onde tudo começou. Aguardava-o uma festa. Antes, fez escala na capital paulista.

Visitou o ex-vice José Alencar, que fora impedido pelos médicos de comparecer aos festejos da posse de Dilma Rousseff e Michel Temer.

Os festejos de São Bernardo, manjedoura política de Lula, converteram-se num comício para cerca de 2 mil pessoas.

Armou-se um palanque defronte do edifício em cuja cobertura Lula reside. O ex-presidente escalou o estrado ao lado da mulher, Marisa, e do senador José Sarney.

O mesmo Sarney que, horas antes, declarara empossada no cargo de presidente a ex-militante que arrostara a tortura da ditadura que o senador ajudara a sustentar.

Na passagem pelo hospital Sírio Libanês, Lula foi inquirido sobre a sensação de “desencarnar” da presidência. Soou evasivo:

"Agora a Dilma que tem direito a todas as perguntas". Ao discursar em São Bernardo, deixou antever o rebuliço que lhe convulsiona a alma:

"O fato de eu ter deixado a presidência da República não significa que eu deixe a política”.

Sob aplausos, disse que ainda tem “muita coisa para fazer” pelo país e pelo mundo:

“Quero levar para a África as experiências bem sucedidas no Brasil, quero levar para a América Latina as experiências bem sucedidas no Brasil".

Em Brasília, no pronunciamento inaugural que leu no Congresso, Dilma estendeu a mão à oposição. Em São Bernardo, Lula reergueu a lança.

Pediu à platéia que apóie Dilma. E, como fizera nos palanques da campanha, investiu contra os rivais. Abestendo-se de nominá-los, crispou-se:

"Os adversários são os mesmos, os preconceitos são maiores e muitos mais. A gente vai ter que estar ao lado dela enfrentando seus adversários”.

O novo embate, disse Lula, é necessário para “provar que a mulher [como o operário] tem competência e vai governar o país com muita qualidade".

Lula chegou a São Bernardo por volta das 22h45. Era esperado para as 20h. Mesmo sob chuva, a audiência não arredou o pé.

“Eu volto para casa de cabeça erguida e com a sensação do dever cumprido”, disse.

Informou que estará sempre à disposição de Dilma. Mas, disciplinado, esclareceu que só vai opinar quando “convocado”.

Lula deixara Brasília distribuindo acenos. Como jogador de seleção que carrega o caneco na bagagem, alçara a cebaça para fora do avião.

No palanque noturno, foi saudado com o “Tema da Vitória”, aquela musiquinha que soava na TV sempre que Ayrton Senna triunfava nas pistas.

Fogos pipocaram nos céus de São Bernardo. Uma orquestra de viola da cidade executou para o ex-monarca um sucesso do rei Roberto Carlos.

Depois de ter os ouvidos acarinhados pelos acordes de "Como é grande o meu amor por você", Lula foi brindado com “Menino da Porteira”.

Coisa encomendada ao cantor setanejo Sérgio Reis pelo prefeito petista Luiz Marinho, velho amigo de Lula, conhecedor do gosto musical do homenageado.

Animado, Lula atracou-se com Marisa e dançou. O prefeito Marinho, ex-ministro do Trabalho, entregou-lhe as chaves do município.

Antes de virar a maçaneta de seu apartamento, agora convertido em abrigo de um aposentado transitório, Lula ainda foi afagado por um discurso de Sarney.

O eterno presidente do Senado atribuiu a consagração popular de Lula ao que ele “fez pelos mais pobres". 

Na visita a Alencar, no Sírio Libanes, Sarney testemunhara uma cena de idolatria. Mais uma.

Informados de que Lula passaria pelo hospital, dois primos passaram horas na portaria à espera da oportunidade de abraçá-lo.

O sacrifício foi premiado. Autorizados a subir até o andar em que se encontrava Lula, avistaram-se com o alvo da adoração.

Depois, um dos contemplados, Jamal Aboultaeif, de 10 anos, descreveu o encontro como "superemocionante". Disse que ele o primo foram “abençoados” por Lula.