Sob FHC, Arruda dizia representar Brasília ‘limpinha’
Sabe-se, desde Magalhães Pinto, que
política é como nuvem: você olha e vê um formato. Mas, quando olha de
novo, já vê outro.
Mineiro como
o criador da máxima, José Roberto Arruda levou-a para passear nas
fronteiras do paroxismo.
O vídeo lá do alto, gravado em abril de 2001, exibe duas peças
institucionais do PSDB. Ambas estreladas por Arruda.
O Arruda de então era um ilustre senador da
República. Elegera-se em 1994, a bordo do velho PP. Apoiara-o Joaquim
Roriz, o governador de então.
No ano seguinte, Arruda rompeu com Roriz e ingressou no PSDB. Em
2001, tornou-se líder do governo FHC no Senado.
Foi nessa condição que protagonizou o par de
vídeos, nos quais aparece defronte de um velho automóvel Brasília.
Num dos filmetes, fala de uma Brasília
“limpinha, arrumadinha, longe da sujeira”. Noutro, discorre sobre um
empréstimo de US$ 130 milhões do Banco Mundial.
Como senador, ajudara a aprovar o contrato.
Valera-se do prestígio de líder governista para apressar a liberação da
verba.
“Pra mim,
não importa quem tá dirigindo”, jactou-se Arruda no vídeo. Atrás dele,
um figurante com a cara de Roriz faz as vezes de motorista da Brasília
velha.
Na ocasião
em que as cenas foram levadas ao ar, Arruda já frequentava as manchetes
em posição incômoda.
Dois meses antes, em fevereiro de 2001, ele fora acusado de
violar o painel do Senado.
Junto o grão-pefelê ACM, que presidia a Casa, Arruda apalpara os
votos secretos da sessão em que os colegas haviam passado na lâmina o
mandato de Luiz Estevão.
Um mês depois, em maio de 2001, Arruda seria compelido a
renunciar ao mandato, para evitar uma cassação que se avizinhava como
incontornável.
Posto para
correr do PSDB, Arruda filiou-se ao então PFL. Achegou-se novamente a
Roriz. Em 2002, foi brindado pelo eleitor brasiliense com um mandato de
deputado.
O tempo
passou. E, em 2006, de novo rompido com Roriz, Arruda elegeu-se
governador do DF.
O resto da
história, por recente, é pãozinho quente. Traído por Durval Barbosa, um
ex-auxiliar que herdara de Roriz, Arruda meteu-se na encrenca
panetônica.
Hospedado no
PF’s Inn, perdeu a cadeira de governador e o que lhe restava
de biografia. Da cadeia, assiste ao ressurgimento de Joaquim Roriz.
Um Roriz que, na bica de obter o quinto
mandato de governador, volta a ser paparicado pelo tucanato.
Um Roriz que, há duas semanas, reuniu-se em
São Paulo com FHC, para detalhar o apoio do PSC, seu atual partido, à
candidatura tucana de José Serra.
O tempo passa. A nuvens se mexem. Mas a Brasília “limpinha” e
“arrumadinha” remanesce como utopia. Imutável. Irrealizável.