DEM rebate Gabeira e abre crise em aliança pró-Serra
Fotos: ABr e Folha
Abriu-se uma crise na coligação constituída para oferecer
palanque ao presidenciável tucano José Serra no Rio de Janeiro.
Conforme noticiado aqui, Fernando
Gabeira, candidato do PV ao governo do Estado, deseja excluir da aliança
o DEM, partido de Cesar Maia.
Filho do ex-prefeito e presidente nacional do DEM, o deputado
Rodrigo Maia (RJ) falou ao blog na noite passada.
Alcançado pelo celular, Rodrigo disse: “Temos
no Rio uma aliança do DEM, PSDB e PPS com o PV. Ou o Gabeira terá os
três partidos ou não terá nenhum”.
Rodrigo vinha de uma conversa com os presidentes do PSDB, Sérgio
Guerra; e do PPS, Roberto Freire.
Encontraram-se na cerimônia em que José Serra se despediu do
governo de São Paulo. Conversaram sobre Gabeira. Ouça-se Rodrigo:
“Reafirmamos, o Roberto Freire, o Sérgio Guerra e eu, o
compromisso de aliança dos três partidos que apóiam o Serra com o
Gabeira. De nossa parte, não há problema. Achamos que o Gabeira é um
ótimo nome. Mas não há possibilidade de se formar uma aliança
diferente”.
Rodrigo
recorda que, afora as conversas privadas, Gabeira participou, há três
semanas, de um evento público promovido pelo DEM.
Lembra que, em discurso “gravado e
testemunhado por mais de 500 pessoas, Gabeira elogiou o Cesar Maia.
Disse que é o melhor candidato ao Senado”.
Acrescenta: “Nós costumamos acreditar na
palavra das pessoas. Não dá para dizer uma coisa hoje e outra amanhã”.
Em privado, Gabeira escora o desejo de excluir
o DEM da coligação na “forte reação” que sua união com Cesar Maia
despertou no eleitorado de classe média.
Passou a dizer que é melhor abrir mão dos três minutos de TV que
o DEM agrega à sua campanha do que “passar 30 horas se explicando” ao
eleitor.
Gabeira não
está só. A aversão a Cesar Maia é compartilhada pelo presidente do
PV-RJ, Alfredo Sirkis, e pela vereadora Andréa Gouvêa Vieira, do PSDB de
Sérgio Guerra e José Serra.
“Se o Sirkis e a Andréa estão enganando o Gabeira, se querem dar a
vitória ao Sérgio Cabral [PMDB], estão agindo com muita competência”,
reage Rodrigo.
O presidente
do DEM declara, em timbre peremptório: “Sem a aliança conosco, o
Gabeira não tem chance de vitória no Rio”.
Rodrigo afirma que coligações políticas
pressupõem a união de forças desiguais. “Se fôssemos iguais, estaríamos
todos no PV ou no DEM”.
Irônico, Rodrigo diz que “a rejeição da classe média a Cesar Maia
só ocorre no Posto 9, na praia de Ipanema, onde o Gabeira toma Sol”.
Afirma que “a rejeição a Gabeira começa no
bairro de São Cristovão, na zona
Norte, e termina em Santa Cruz, na zona
Oeste. Sem contar o interior do Estado”.
No dizer de Rodrigo, “a base eleitoral do Gabeira vai da zona Sul à Tijuca. O resto dos votos vem por agregação,
não são dele”.
Reconhece
que o prestígio de Cesar Maia junto à classe média da capital decaiu no
final de sua gestão na prefeitura.
Mas, munido de pesquisas, pondera: “O Gabeira sai de um patamar
de 30% na capital e cai para uma média de 10% no resto do Estado. Meu
pai tem 35% dos votos da capital, 32% na Baixada Fluminense e 40% no
interior do Rio”.
Daí, segundo
Rodrigo, a convicção de que só a união de esforços fará com que Gabeira
prevaleça sobre Sérgio Cabral, candidato à reeleição.
Ferino, Rodrigo afirma: “O Gabeira recebe meia
dúzia de mensagens contra o Cesar Maia na caixa postal do computador e
entra em TPM. O eleitor conservador do Cesar Maia também manda mensagens
contra o Gabeira. A gente tem a nossa TPM. Mas basta tomar o remedinho
que isso passa”.
Gabeira já havia se aliado a DEM, PSDB e PPS na campanha
municipal de 2008. Foi ao segundo turno. Mas perdeu, por margem
estreita, para Eduardo Paes (PMDB).
Rodrigo atribui a derrota ao “jogo sujo” do PMDB do Rio. Lembra
que Paes e Sérgio Cabral alvejaram Gabeira com panfletos
preconceituosos.
Realçaram a
defesa que Gabeira faz da descriminalização do consumo de maconha e do
direito dos homossexuais à união civil.
“O Gabeira perdeu porque colocaram os valores morais à frente do
debate: a tanguinha do Gabeira, a maconha e o homossexualismo. Nós não
temos esses preconceitos. Ao contrário, queremos nos unir para
derrotá-los. Difícil entender essa conversa mole de excluir o DEM”.
Tomada pelo seu formato original, a aliança
formada ao redor de Gabeira reservou ao PSDB a indicação do vice. Ao DEM
e ao PPS cabe indicar os senadores.
Combinou-se que, no primeiro turno, Gabeira faria a campanha de
Maria Silva, a presidenciável do PV.
Caberia aos candidatos ao Senado, entre eles o ‘demo’ Cesar Maia,
levar à TV a campanha de Serra. Rodrigo pondera: “Tirando o Zito [José Camilo
Zito, prefeito tucano de Nova Iguaçu], quem vai botar a cara pra
pedir votos pro Serra no Rio é o Cesar Maia, não o Gabeira”.
E quanto à hipótese de o DEM lançar um
candidato próprio ao governo do Rio? “Só uma pessoa que bebeu além da
conta pode acreditar nesse conto da carochinha. Se o nosso projeto fosse
o de eleger apenas um senador, não precisaríamos nos unir ao Gabeira”.
Vai procurar Gabeira? “Não. De nossa parte,
ninguém quer desmontar a aliança. Achamos que o Gabeira está com TPM.
Mas TPM passa”.