Fora do governo, Lula quer liderar ‘frente’ partidária
Sobre Dilma: Ela era ‘um animal político não trabalhado’
Sobre Serra: ‘Acho que ele deu azar’ em 2002 e 2010
Sobre Palocci: ‘Devo muito do sucesso do governo a ele’
Sobre mensalão: sem o caso, ‘quadro poderia ser outro’
Sobre FHC: ‘Reeleição produziu uma relação promíscua’
Sobre PT: ‘É muito forte, mas a frente será mais forte’
Sobre PSDB: ‘Acho que eles escolheram outro projeto’
Marcello Casal/ABr
A
cinco meses de deixar a Presidência, Lula recorre a uma frase que diz
ter ouvido de Felipe González, ex-primeiro-ministro da Espanha, para
definir sua condição futura: “Ex-presidente é que nem aquele vaso chinês
que você ganha de presente. Você não sabe onde colocar o
ex-presidente”.
Em
ritmo de conta-gotas, o futuro “vaso chinês” vai revelando o espaço que
deseja ocupar depois que for convertido em “ex”. Faz as contas: “Tenho
64 anos e, quando deixar a Presidência. vou ter 65 anos. Logo, ainda
tenho uma contribuição política para dar ao país”.
Dias
atrás, avisara que, fora do governo, fará o que não fez em oito anos de
mandato: vai defender a reforma política como “um leão”. Descobre-se
agora que Lula tem planos bem mais ambiciosos. Deseja liderar “a
construção de uma frente ampla de partidos”.
Revelou
o “sonho” numa entrevista à revista “IstoÉ”. Definiu a “frente ampla”
como “uma espécie de seleção brasileira” suprapartidária. Convocado, o
escrete não se ocuparia apenas da reforma política. Faria “um programa
para o Brasil”.
Deseja
acabar com o PT? “Não”, Lula responde. Acha que o PT, “organizado no
Brasil inteiro, tem muita força”. Mas avalia que é possível “construir
uma coisa mais forte do que um partido. Esclarece que a frente “pode ter
gente da maioria dos partidos”.
Inquirido
sobre a participação do PSDB no projeto, Lula cuidou de esclarecer que
sua frente, embora “ampla”, tem limites: “Eu acho que acabou o tempo da
ilusão em que a gente poderia trabalhar junto com o PSDB. Eu acreditei
nisso. E muita gente do PT acreditou nisso”.
Alegou:
os tucanos “escolheram outro projeto”. Recordou: ao virar presidente,
FHC tentara reunir em torno de si “gente que na época se comportava como
de esquerda, como o PPS”.
Diagnosticou:
“Qual foi o problema? Foi a reeleição, que conduziu para uma relação
promíscua com o Congresso. E a coisa desandou um pouco”. Nos lábios de
um presidente que enxerga no retorvisor o escândalo do mensalão, a
menção à promiscuidade alheia soa desconexa.
No
curso da entrevista, o próprio Lula reconheceu: não fosse pela Sodoma
mensaleira, seu candidato à Presidênsia seria outro. Recordou-se ao
entrevistado que, antes de se fixar em Dilma Rousseff, cogitara outros
nomes –Antonio Palocci e José Dirceu, por exemplo.
E
Lula: “Obviamente, se não tivesse acontecido com o PT o que aconteceu
em 2005, o quadro político poderia ser outro”. Ao acomodar Dilma
Rousseff na Casa Civil, enxergou-a com outros olhos: “[...] Percebi que
estava diante de um animal político não trabalhado. Um animal político
que foi educado a vida inteira para ser técnica. E eu comecei a falar:
bom, agora nós temos que descobrir o lado político de Dilma”.
Tomado
pelo que disse na entrevista, sua opção anterior seria Palocci, não
Dirceu. Reobriu-o de elogios. Apeado do ministério da Fazenda pelo
escândalo da violação do sigilo bancário do caseiro, Palocci é, hoje, a
voz de Lula no comitê de Dilma.
Será
ministro dela caso o PT vença a eleição? Lula absteve-se de responder.
Mas suas palavras tiveram o peso de um sim: “No Brasil, nós temos, se é
que temos, raríssimas pessoas com a inteligência política do Palocci.
[...] Devo muito do sucesso do meu governo ao Palocci. [...] É muito
jovem e acho que tem muita contribuição para dar”.
Lula
saboreia os efeitos da superpopularidade: “Fico feliz em saber que
ninguém quer fazer campanha falando mal de mim. É uma coisa boa, é
agradável”. Mas apressa-se em avisar: “Eu tenho um lado, um partido e um
candidato”.
Não
receia ofuscar o brilho de Dilma, diminuindo-a na campanha? “Não existe
a possibilidade”, acredita. Por quê? “Vai chegando o momento em que o
clima na sociedade, na imprensa, no debate, é da candidata, não é do
presidente”.
Eleita,
Dilma não será engolida pelo PT? “Quem fala isso não conhece a Dilma.
Ela é uma mulher de personalidade muito forte. O PT está na direção da
campanha da Dilma, como estava na direção da minha”.
Uma
eventual gestão de sua pupila seria estatizante? “Não há essa hipótese.
Eu conheço bem a Dilma e sei o que ela pensa. Obviamente que nós não
queremos ser estatizantes, mas também não vamos carregar a pecha que nos
imputaram nos anos 80, quando se dizia que o Estado não valia nada...”
Acredita
em segundo turno? “Eu acho que é uma eleição que pode terminar no
primeiro turno. Mas se for para o segundo, não existe nenhum problema.
Vamos fazer uma bela campanha”.
Instado
a dizer algo sobre José Serra, Lula disse: “Acho que ele deu azar”.
Explicou: “Foi candidato num ano [2002] em que eu não tinha como perder.
Agora, é candidato num ano em que a Dilma tem todas as condições de
ganhar, porque o governo está muito bem e porque as coisas vão
melhorar”.
Elio Gaspari: ‘Apoio dos tucanos a Dilma virou fraude’
O mês de julho descera à crônica da campanha presidencial como marco inaugural de uma inconfidência oposicionista.
Escalara
as manchetes a “notícia” de que algo como 50 prefeitos de legendas
fechadas com Serra e Marina haviam participado de ato pró-Dilma.
O
rol de infiéis incluiria 25 tucanos. O tempo passou. Os silvérios não
apareceram. E a única traição realmente comprovada foi à verdade.
Na abertura da coluna que leva às páginas deste domingo (8), o repórter Elio Gaspari esmiúça o embuste. O texto vai abaixo:
“No
dia 1º de julho, a candidata petista à Presidência da República
participou, em Campinas, da criação do 'Movimento Pluripartidário Pró
Dilma Rousseff', patrocinado pelo prefeito da cidade, Hélio de Oliveira
Santos, o 'Doutor Hélio'.
O encontro deu-se no Hotel Royal Palm Plaza, com direito a tablado, discursos e faixas que anunciavam o propósito da reunião.
O
secretário de Comunicação do município, Francisco de Lagos, saudou a
plateia e anunciou que nela estavam 117 prefeitos, 25 dos quais do PSDB,
nove do DEM, oito do PV e oito do PPS, partidos comprometidos com José
Serra e Marina Silva.
Gustavo
Reis, de Jaguariúna (PPS), discursou. Lagos não disse os nomes dos
demais, nem os organizadores da festa divulgaram uma lista que os
identificasse. Ele explicou o motivo: 'Não vou botar pato na boca de
jacaré'.
Com a propagação da notícia, os quatro partidos anunciaram que tomariam providências contra os trânsfugas e o PV suspendeu a filiação do prefeito de Itapira, Antonio Belini.
Com a propagação da notícia, os quatro partidos anunciaram que tomariam providências contra os trânsfugas e o PV suspendeu a filiação do prefeito de Itapira, Antonio Belini.
As manchetes deste domingo
- Globo: Rio: novo Código Florestal ameaça a Mata Atlântica
- Folha: BNDES repassa 57% dos recursos a 12 empresas
- Estadão: Lula deixará para sucessor conta de até R$ 90 bilhões
- JB: Foro especial para juiz pode cair
- Correio: O jogo duplo da elite do executivo
- Veja: Falar e escrever bem: rumo à vitória
- Época: Os novos evangélicos
- IstoÉ Dinheiro: "Comprei a empresa onde eu trabalhava"
- CartaCapital: A hora da tevê
- Exame: O Google vai à guerra
Leia os destaques de capa de alguns dos principais jornais e revistas do país.
Ibope: Dilma sobe, Serra cai e disputa empata no RS
Folha
Pesquisa feita pelo Ibope no Rio Grande do Sul entre terça (3) e quinta-feira (5) traz uma má notícia para José Serra.
Dilma Rousseff alcançou o rival no Rio Grande do Sul, cidadela tucana. O quadro agora é de empate técnico.
Pior: Dilma, com 42%, está numericamente à frente de Serra, com 40%.
Diz-se
que a disputa está empatada porque a vantagem de Dilma situa-se, por
ora, dentro da margem de erro, que é de três pontos –para mais ou para
menos.
Em
sondagem que fizera há um mês –entre 6 e 8 de julho—, o Ibope detectara
situação inversa. Serra somava, então, 46%. Dilma, 37%.