O QUE FAZER DEPOIS?

PAULO MELO CORUJA NEWS

Fora do governo, Lula quer liderar ‘frente’ partidária

Sobre Dilma: Ela era ‘um  animal político não trabalhado’
Sobre Serra:  ‘Acho que  ele  deu azar’ em  2002  e  2010
Sobre Palocci: ‘Devo muito do sucesso do governo a ele’
Sobre mensalão: sem o caso, ‘quadro poderia ser  outro’
Sobre FHC: ‘Reeleição produziu uma relação  promíscua’
Sobre PT: ‘É muito forte, mas a  frente  será  mais  forte’
Sobre PSDB: ‘Acho  que  eles  escolheram  outro projeto’

Marcello Casal/ABr

A cinco meses de deixar a Presidência, Lula recorre a uma frase que diz ter ouvido de Felipe González, ex-primeiro-ministro da Espanha, para definir sua condição futura: “Ex-presidente é que nem aquele vaso chinês que você ganha de presente. Você não sabe onde colocar o ex-presidente”.

Em ritmo de conta-gotas, o futuro “vaso chinês” vai revelando o espaço que deseja ocupar depois que for convertido em “ex”. Faz as contas: “Tenho 64 anos e, quando deixar a Presidência. vou ter 65 anos. Logo, ainda tenho uma contribuição política para dar ao país”.

Dias atrás, avisara que, fora do governo, fará o que não fez em oito anos de mandato: vai defender a reforma política como “um leão”. Descobre-se agora que Lula tem planos bem mais ambiciosos. Deseja liderar “a construção de uma frente ampla de partidos”.

Revelou o “sonho” numa entrevista à revista “IstoÉ”. Definiu a “frente ampla” como “uma espécie de seleção brasileira” suprapartidária. Convocado, o escrete não se ocuparia apenas da reforma política. Faria “um programa para o Brasil”.

Deseja acabar com o PT? “Não”, Lula responde. Acha que o PT, “organizado no Brasil inteiro, tem muita força”. Mas avalia que é possível “construir uma coisa mais forte do que um partido. Esclarece que a frente “pode ter gente da maioria dos partidos”.

Inquirido sobre a participação do PSDB no projeto, Lula cuidou de esclarecer que sua frente, embora “ampla”, tem limites: “Eu acho que acabou o tempo da ilusão em que a gente poderia trabalhar junto com o PSDB. Eu acreditei nisso. E muita gente do PT acreditou nisso”.

Alegou: os tucanos “escolheram outro projeto”. Recordou: ao virar presidente, FHC tentara reunir em torno de si “gente que na época se comportava como de esquerda, como o PPS”.

Diagnosticou: “Qual foi o problema? Foi a reeleição, que conduziu para uma relação promíscua com o Congresso. E a coisa desandou um pouco”. Nos lábios de um presidente que enxerga no retorvisor o escândalo do mensalão, a menção à promiscuidade alheia soa desconexa.

No curso da entrevista, o próprio Lula reconheceu: não fosse pela Sodoma mensaleira, seu candidato à Presidênsia seria outro. Recordou-se ao entrevistado que, antes de se fixar em Dilma Rousseff, cogitara outros nomes –Antonio Palocci e José Dirceu, por exemplo.

E Lula: “Obviamente, se não tivesse acontecido com o PT o que aconteceu em 2005, o quadro político poderia ser outro”. Ao acomodar Dilma Rousseff na Casa Civil, enxergou-a com outros olhos: “[...] Percebi que estava diante de um animal político não trabalhado. Um animal político que foi educado a vida inteira para ser técnica. E eu comecei a falar: bom, agora nós temos que descobrir o lado político de Dilma”.

Tomado pelo que disse na entrevista, sua opção anterior seria Palocci, não Dirceu. Reobriu-o de elogios. Apeado do ministério da Fazenda pelo escândalo da violação do sigilo bancário do caseiro, Palocci é, hoje, a voz de Lula no comitê de Dilma.

Será ministro dela caso o PT vença a eleição? Lula absteve-se de responder. Mas suas palavras tiveram o peso de um sim: “No Brasil, nós temos, se é que temos, raríssimas pessoas com a inteligência política do Palocci. [...] Devo muito do sucesso do meu governo ao Palocci. [...] É muito jovem e acho que tem muita contribuição para dar”.

Lula saboreia os efeitos da superpopularidade: “Fico feliz em saber que ninguém quer fazer campanha falando mal de mim. É uma coisa boa, é agradável”. Mas apressa-se em avisar: “Eu tenho um lado, um partido e um candidato”.

Não receia ofuscar o brilho de Dilma, diminuindo-a na campanha? “Não existe a possibilidade”, acredita. Por quê? “Vai chegando o momento em que o clima na sociedade, na imprensa, no debate, é da candidata, não é do presidente”.

Eleita, Dilma não será engolida pelo PT? “Quem fala isso não conhece a Dilma. Ela é uma mulher de personalidade muito forte. O PT está na direção da campanha da Dilma, como estava na direção da minha”.

Uma eventual gestão de sua pupila seria estatizante? “Não há essa hipótese. Eu conheço bem a Dilma e sei o que ela pensa. Obviamente que nós não queremos ser estatizantes, mas também não vamos carregar a pecha que nos imputaram nos anos 80, quando se dizia que o Estado não valia nada...”

Acredita em segundo turno? “Eu acho que é uma eleição que pode terminar no primeiro turno. Mas se for para o segundo, não existe nenhum problema. Vamos fazer uma bela campanha”.

Instado a dizer algo sobre José Serra, Lula disse: “Acho que ele deu azar”. Explicou: “Foi candidato num ano [2002] em que eu não tinha como perder. Agora, é candidato num ano em que a Dilma tem todas as condições de ganhar, porque o governo está muito bem e porque as coisas vão melhorar”.

Elio Gaspari: ‘Apoio dos tucanos a Dilma virou fraude’

O mês de julho descera à crônica da campanha presidencial como marco inaugural de uma inconfidência oposicionista.

Escalara as manchetes a “notícia” de que algo como 50 prefeitos de legendas fechadas com Serra e Marina haviam participado de ato pró-Dilma.

O rol de infiéis incluiria 25 tucanos. O tempo passou. Os silvérios não apareceram. E a única traição realmente comprovada foi à verdade.

Na abertura da coluna que leva às páginas deste domingo (8), o repórter Elio Gaspari esmiúça o embuste. O texto vai abaixo:


“No dia 1º de julho, a candidata petista à Presidência da República participou, em Campinas, da criação do 'Movimento Pluripartidário Pró Dilma Rousseff', patrocinado pelo prefeito da cidade, Hélio de Oliveira Santos, o 'Doutor Hélio'.

O encontro deu-se no Hotel Royal Palm Plaza, com direito a tablado, discursos e faixas que anunciavam o propósito da reunião.

O secretário de Comunicação do município, Francisco de Lagos, saudou a plateia e anunciou que nela estavam 117 prefeitos, 25 dos quais do PSDB, nove do DEM, oito do PV e oito do PPS, partidos comprometidos com José Serra e Marina Silva.

Gustavo Reis, de Jaguariúna (PPS), discursou. Lagos não disse os nomes dos demais, nem os organizadores da festa divulgaram uma lista que os identificasse. Ele explicou o motivo: 'Não vou botar pato na boca de jacaré'.

Com a propagação da notícia, os quatro partidos anunciaram que tomariam providências contra os trânsfugas e o PV suspendeu a filiação do prefeito de Itapira, Antonio Belini.

As manchetes deste domingo


- Globo: Rio: novo Código Florestal ameaça a Mata Atlântica

- Folha: BNDES repassa 57% dos recursos a 12 empresas

- Estadão: Lula deixará para sucessor conta de até R$ 90 bilhões

- JB: Foro especial para juiz pode cair

- Correio: O jogo duplo da elite do executivo

- Veja: Falar e escrever bem: rumo à vitória

- Época: Os novos evangélicos

- IstoÉ Dinheiro: "Comprei a empresa onde eu trabalhava"

- CartaCapital: A hora da tevê

- Exame: O Google vai à guerra

Leia os destaques de capa de alguns dos principais jornais e revistas do país.

Mono-programas!

Aroeira
-Via O Dia.

Ibope: Dilma sobe, Serra cai e disputa empata no RS

Folha

Pesquisa feita pelo Ibope no Rio Grande do Sul entre terça (3) e quinta-feira (5) traz uma má notícia para José Serra. 

Dilma Rousseff alcançou o rival no Rio Grande do Sul, cidadela tucana. O quadro agora é de empate técnico.

Pior: Dilma, com 42%, está numericamente à frente de Serra, com 40%.

Diz-se que a disputa está empatada porque a vantagem de Dilma situa-se, por ora, dentro da margem de erro, que é de três pontos –para mais ou para menos.

Em sondagem que fizera há um mês –entre 6 e 8 de julho—, o Ibope detectara situação inversa. Serra somava, então, 46%. Dilma, 37%.