SIMON SOBRE PENSÃO: JÁ NÃO CONSEGUIA MANTER CASA SÓ COM O SENADO

PAULO MELO CORUJA NEWS

Simon sobre pensão: ‘Não conseguia manter a casa’

  Ag.Senado
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) justificou de maneira singela a decisão de requerer a aposentadoria especial de ex-governador gaúcho:
“Eu não estava mais conseguindo viver”, disse ele.
“Chegou um momento em que eu estava brigando com a mulher, não conseguia mais manter minha casa”.
A pensão de ex-governador assegura a Simon R$ 24,1 mil por mês.
A partir de fevereiro, o salário de senador vai a 26,7 mil. Os dois, R$ 50,8 mil.
A lei gaúcha que regula a matéria veda o acúmulo da pensão especial com outro contracheque público. Simon, por ora, não se deu por achado.
Abaixo, a entrevista que o senador concedeu ao Zero Hora:
— Por que o senhor abriu mão por tanto tempo e agora solicitou o benefício? Abri mão por 20 anos. Sempre fui contra. Queria viver do meu salário como senador. Mas aí, no Senado, passei o tempo todo brigando. Quando eu pedi [o benefício de ex-governador], um senador ganhava R$ 16 mil brutos, que dava R$ 10 mil líquidos, e aí ganhava R$ 18 mil de verba de representação. Sempre me neguei a receber essa verba, porque acho que ela é camuflagem. Tu tens que ganhar o salário e viver dele. Mas passaram cinco anos sem mexer no salário, e a verba de representação passou de R$ 6 mil para R$ 18 mil. Eu não estava mais conseguindo viver.

— O senhor já recebe a pensão? Por 20 anos não recebi. Nunca recebi um telefonema sobre isso. O primeiro mês que recebo, já estão me ligando. Tem gente que recebe verba de ex-deputado que não recebo. Passei 20 anos sem receber como de ex-deputado e como ex-governador e nem a representação do Senado. Mas chegou um momento em que eu estava brigando com a mulher, não conseguia mais manter minha casa.

— Como o senhor avalia a proposta da OAB de cassar o benefício? Se cassarem, não fico chateado. Não vou contestar. Só acho engraçado que meu destino é muito assim: recebem há 40 anos, eu vou receber agora e a OAB vai cassar. Nasci para ser franciscano.
Ficou entendido que o senador, a despeito dos hábitos franciscanos, já não conseguia encher a geladeira apenas com o contracheque do Senado. Beleza.
Muitos trabalhadores brasileiros atravessam o mesmo drama. Quem ganha o salário mínimo –ou algo próximo disso— está condenado ao fim do mês perpétuo.
Em casos assim, o cidadão comum costuma seguir o manual. Alguns cortam despesas. Outros fazem hora-extra. E há quem combine as duas coisas.
Ao servir-se de um privilégio reservado a brasileiros que se consideram especiais, Simon pôs a mão numa grana que recusou por 20 anos.
“Sempre fui contra”, ele diz. Opunha-se porque considerava imoral. Súbito, tornou-se cúmplice da imoralidade.
Curioso que Simon estranhe os telefonemas dos repórteres. “O primeiro mês que recebo, já estão me ligando”.
Ele se queixa-se: “Tem gente que recebe verba de ex-deputado, que não recebo”.
De fato, há políticos capazes de tudo. Nenhum deles, porém, bate no peito e se jacta de ser um Pedro Simon.
Agora, quando subir à tribuna para criticar os desvios éticos alheios, Simon arrisca-se a ouvir o revide:
“A ficha de Vossa Excelência pode não ter caído, mas já não é um Pedro Simon. Tornou-se um ex-Simon”.