FORÇA AÉREA LÍBIA BOMBARDEIA BAIRROS DA CAPITAL PARA REPRIMIR PROTESTOS

PAULO MELO CORUJA NEWS

Força Aérea da Líbia bombardeia bairros da capital para reprimir manifestações

Do UOL Notícias*
Em São Paulo
  • O ditador líbio Muammar Gaddafi, que em setembro de 2011 completa 42 anos no poder, em Tripoli (Líbia) O ditador líbio Muammar Gaddafi, que em setembro de 2011 completa 42 anos no poder, em Tripoli (Líbia)
Pela primeira vez desde o início da recente onda de protestos na Líbia, nesta segunda-feira (21) houve relatos de protestos na capital do país, Tripoli, com violenta reação do governo de Muammar Gaddafi, que inclui ataques com artilharia pesada e uso de aviação militar contra civis. Entre 160 e 250 pessoas teriam morrido na repressão de hoje, segundo televisões árabes.
Segundo reportou a agência EFE, a situação na capital é de tensão máxima, com corpos dispostos nas ruas e contínuos barulhos de disparos de armas de fogo em vários bairros da cidade, inclusive de projéteis de artilharia pesada. Um grande edifício público onde se reúne o Congresso Geral do Povo, o parlamento líbio, estava em chamas na capital.
O regime chegou a usar aviões da aeronáutica para bombardear os manifestantes que protestavam em Trípoli, segundo informações da rede de televisão Al Jazeera. A emissora, que citava diversas testemunhas, não deu detalhes sobre as áreas que foram bombardeadas, nem divulgou um número de vítimas.
"O que estamos testemunhando hoje é inimaginável. Aviões de guerra e helicópteros estão bombardeando indiscriminadamente uma área após a outra. Existem muitos, muitos mortos", afirmou a testemunha Adel Mohamed Saleh, em declarações ao vivo à Al Jazeera.
Questionado se o bombardeio ainda estava acontecendo, ele disse: "Continua, continua. Qualquer um que se movimente. Mesmo os que estão em seus carros, eles atingirão você."

Protestos na Líbia


Foto 15 de 20 - 21.fev.2011 Imagem reproduzida de vídeo postado no YouTube mostra estação de polícia incendiada em Tobruk, na Líbia Mais AP Photo/Reprodução do YouTube
Um analista da consultora Control Risks, com sede em Londres, afirmou que o uso de aeronave militar contra o seu próprio povo indica que o fim está próximo para Muammar Gaddafi.
"Esses realmente parecem ser os últimos e desesperados atos. Se você bombardeia a sua própria capital, é muito difícil ver como você pode sobreviver", disse Julien Barnes-Dacey, citado pela agência Reuters.
"Mas eu acho que Kaddafi vai comprar a briga. Acho que os rumores dele fugindo para a Venezuela vão se provar errados. Na Líbia, mais do que em qualquer outro país na região, há a perspectiva de violência grave e conflito direto", acrescentou.

Corpos pelas ruas

A edição online do jornal líbio "Quryna" informa que homens armados apresentados como "mercenários" teriam disparado contra manifestantes em Trípoli, causando várias mortes. O site cita o caso de uma mulher que foi atingida à frente de sua residência, e diz que o número de vítimas segue aumentando.
De acordo com um trabalhador de uma empresa petrolífera que foi expatriado nesta segunda-feira, era possível ver no caminho para o aeroporto "vários corpos jogados nas ruas", um relato que foi confirmada por outros moradores da capital.
O aeroporto de Trípoli se encontra em situação caótica, com centenas de pessoas tentando encontrar um voo para sair do país.

Serviços de comunicação comprometidos

O serviço de internet e telefonia ainda estão com funcionamento prejudicado, o que dificulta a comunicação entre os líbios e impõe sérias restrições para os jornalista que poderiam enviar informações e imagens dos eventos no país. Na capital, um morador afirmou que a área em que ele mora ficou sem eletricidade.

De outra área residencial a nove quilômetros do centro de Trípoli foram ouvidos vários disparos de morteiro e de artilharia, segundo habitantes da região, onde um filho de Gaddafi tem uma mansão. Na principal avenida do centro de Trípoli, os disparos eram ouvidos com frequência.
Enquanto isso, a televisão estatal da Líbia afirmou que uma operação realizada pelas forças de segurança na Líbia contra "terroristas" teria deixado vários mortos.
Forças de segurança teriam atacado "o covil de terroristas e sabotadores que são motivados pelo ódio", afirmou a televisão, pedindo que os cidadãos cooperem com as autoridades para restaurar a segurança no país.
Nas mesquitas, pontos de contato e intercâmbio de informação da sociedade líbia, a maioria dos líderes religiosos pediu à população que saia às ruas para lutar contra o regime, segundo informaram à EFE várias fontes e testemunhas que compareceram às orações nos templos.

Cidades sob controle da oposição

Pelo menos duas cidades já estão sob controle dos manifestantes que protestam contra o governo de Gaddafi, segundo informações das agências de notícias.

Além de Benghazi, onde dezenas de pessoas foram mortas desde que começaram os protestos na semana passada e que já estaria sob controle dos moradores, Jalu, ao sul de Benghazi, também foi tomada pelos opositores de Gaddafi, informou um turco preso na localidade ao canal "NTV".
 A Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), por sua vez, declarou nesta segunda-feira que os manifestantes estão com o controle de várias cidades da Líbia, como Benghazi e Syrta. Segundo a FIDH, em Trípoli há uma "resistência que se desenvolve" contra o regime de Muammar Gaddafi, que adotou "a estratégia do caos", disse Souhair.

Rumores de fuga de Gaddafi

Em Trípoli correm os rumores de que Gaddafi e seus filhos fugiram do país, assim como outros sobre a morte de um dos principais conselheiros e braço direita do líder líbio. Centenas de mensagens circularam este domingo em redes sociais como o Twitter, assegurando que Gaddafi havia deixado Trípoli a bordo de um avião com destino a Caracas.
O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, chegou a sugerir que Gaddafi estaria a caminho da Venezuela, informação que foi negada pelo governo de Hugo Chávez.
"Não temos a menor ideia de onde tiraram esta informação", declarou uma fonte, que não quis ser identificada, dentro da administração de Chávez.
Segundo fontes diplomáticas da capital líbia, esta noite pode ser crucial para o desenvolvimento dos eventos.
*Com informações das agências AFP, Reuters e EFE