LADRÕES DE CARROS SÃO MORTOS EM TIROTEIO COM A POLÍCIA NESTE DOMINGO

PAULO MELO CORUJA NEWS
Londrina

Ladrões de carros são mortos em tiroteio com a polícia nesta madrugada

Uma denúncia anônima levou a PM até um local próximo a Mata do Godoy, onde foi encontrado um "depósito" de carros roubados. Os policiais fizeram campana e abordaram dois carros que chegaram ao local de madrugada, após um roubo de veículos em Cambé
   
Amanda de Santa e Marcelo Frazão, do 
 
Jornal de Londrina

Três bandidos foram mortos na madrugada deste domingo (24) após troca de tiros com a Polícia Militar na zona rural de Londrina, próximo ao Parque Estadual da Mata dos Godoy.
Segundo informações da PM, uma denúncia anônima deu conta de que na região existia um "depósito" de carros roubados. Os policiais foram até o local e confirmaram a denúncia. Os PMs estavam providenciando a remoção dos carros quando ouviram pelo rádio a informação de um roubo de veículo em Cambé.

Integrante do Pelotão de Choque, o policial militar Carlos Alberto Orlans, 20 anos de corporação, é irmão de um dos suspeitos mortos no tiroteio alegado pela polícia. No começo do domingo, o policial, de férias, saía de um “bico” de segurança quando ouviu no rádio a comunicação de um tiroteio perto da Mata dos Godoy. Por atuar no Pelotão de Choque, foi prestar apoio - e decidiu ir até a ocorrência.
“Quando cheguei os policiais não me contaram que um dos mortos era o meu irmão”, diz. “Com certeza foi para preservar o local do crime”. Carlos é companheiro de trabalho dos policiais que participaram da operação: “Conheço todos eles”. Após cumprimentar os colegas e avaliar que a ocorrência já havia se finalizado com a morte dos suspeitos, voltou para casa.
De manhã, em busca do irmão desaparecido, ligou no Centro de Operações da PM e recebeu a notícia de que Rafael Esteves de Orlans era um dos baleados mortos no local onde esteve de madrugada. “Se eu não tivesse de férias, poderia ter sido eu mesmo a atender a ocorrência.” Agora, o policial se mostra dividido. Afirma que o irmão “nunca soube atirar” e “não tinha relação com nada errado” ao mesmo tempo em que releva a ação policial que acabou com a morte do familiar.
“O Rafael era tranquilo. Tinha a idade do meu filho e por isso todo mundo controlava a vida dele. Para mim, saber do envolvimento dele com roubo de carros é uma novidade”. Mesmo abonando o irmão, Orlans evita acusar a PM de tê-lo executado em circunstâncias não ainda esclarecidas: “Não culpo os policiais. Se eu estivesse junto, no meio do nada, no escuro, e houvesse uma reação, também não sei como ficaria”.
Mais tarde, um veículo Gol e um Voyage teriam chegado ao local e foram abordados pelos PMs. Os ladrões teriam reagido, houve confronto e eles foram baleados e mortos pela polícia. Segundo o porta-voz da PM, capitão Ricardo Eguedis, o Siate foi chamado para prestar socorro, mas as vítimas morreram no local. Com os ladrões, foram apreendidos um fuzil 762 modificado, um revólver calibre 38 e uma pistola 9 milímetros, além de munição.
Os corpos de Paulo Henrique Ferreira de Paula, de 24 anos, Rafael Esteves de Orlans, 21, e Waldiney de Jesus, de 19 anos, foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) de Londrina. Os três não tinham passagem pela polícia.
O delegado da Polícia Civil Marcos Paulo Rigoni Rubira informou que um inquérito será aberto para apurar os roubos. Ao todo, seis carros foram recuperados. Um Gol, utilizado pela quadrilha, foi apreendido.
Segundo Eguedis, as armas dos quatro policiais envolvidos na ação foram recolhidas para serem periciadas. Um inquérito foi aberto para apurar o caso. Ele afirmou que os veículos roubados estavam sendo utilizados pelos bandidos para a prática de outros crimes.
Famílias acusam polícia de execução
Duas das famílias dos suspeitos de serem parte de uma quadrilha de furto e roubo de veículos acusam que o trio foi executado sem chance de reação. “Para mim, eles foram executados”, diz Marli dos Santos, mãe de Paulo Henrique Ferreira de Paula, dono de uma borracharia no Jardim Novo Bandeirantes, em Cambé. “Ninguém entendeu o que aconteceu”.
Segundo o pai, Flávio Aparecido, o filho foi encontrado sem os documentos de identificação. O borracheiro foi visto em casa na noite anterior, quando perto das 21h saiu para atender a um chamado. “Depois, já encontramos ele aqui morto”.
“Meu filho não sabia atirar”, afirma a mãe de Rafael Esteves de Orlans. O rapaz tinha acabado de deixar um emprego em um supermercado em Cambé porque passou em um concurso da UEL, onde seria auxiliar administrativo. “O Rafael nem dormir fora de casa dormia. Nunca vi meu filho com arma, muito menos brigando com ninguém”, diz a mãe. Dona Benedita atesta que a família “sempre foi firme” com ele e agora sobram dúvidas sobre a versão da Polícia. “Sei lá, ainda falta explicar alguma parte do que aconteceu”.
Exame de pólvora não provará que houve reação à PM
O perito Luciano Bucharles, do Instituto de Criminalística de Londrina, esteve na área do crime e afirma que “nunca será possível saber”, de fato, se os suspeitos mortos atiraram antes na Polícia Militar. “Colhemos o exame de pólvora das três vítimas mas não é conclusivo. O exame não tem valor científico nenhum”, diz o perito.
Segundo Bucharles, o exame de pólvora, em que é possível avaliar se um suspeito disparou arma de fogo a partir de resíduos nas mãos, “tem grande chance de dar falso positivo ou falso negativo” na maioria dos casos. “Certos elementos químicos presentes nas mãos podem vir de outras atividades, inclusive profissionais. As manicures, por exemplo, tem chumbo e metais pesados em quantidade nas mãos, o que não pode ser confundido com disparo de arma de fogo”.
O perito diz que, se depender do exame, “nunca saberemos se as vítimas realmente atiraram ou manipularam armas de fogo. Uma afirmação dessas depende de várias coisas”.