AS TRAGÉDIAS DO TRÂNSITO NOS FINAIS DE SEMANA

PAULO MELO CORUJA NEWS

Roberto Pires de Jesus e Alex Damaceno de Souza - Duas vidas interrompidas na marginal


ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
No dia 10 deste mês, Alex Damaceno de Souza, 26, foi contratado pela A Tonanni Construções e Serviços Ltda.
 
Oito dias depois, Roberto Pires de Jesus, 36, conseguiu na empresa que presta serviço para a Prefeitura de São Paulo o mesmo emprego que ele: ajudante de jardinagem, com um salário de R$ 610,40.
Alex, filho de pai pedreiro e mãe desempregada, era natural de São Paulo e morava com os pais e um irmão na Freguesia do Ó (zona norte).
Na mesma região vivia Roberto, um baiano de Ilhéus filho de um motorista e de uma dona de casa. Desde que seu barracão pegou fogo há um ano, morava numa casa de um cômodo no Jd. Carumbé, na Brasilândia, com mulher, três filhos, nora e netinha.
Alex, que trabalhara antes montando tubos de papelão, era também pai. Gabriel, o filho, tem quatro anos. Suspeitava que o segundo, de uma "aventura" recente, estivesse a caminho, conta o irmão.

Fabio Braga/Folhapress
Familiares e amigos se despedem de Alex Damaceno de Souza
Familiares e amigos se despedem de Alex Damaceno de Souza
Roberto conheceu a mulher, Marineide, em Ilhéus, quando ela já tinha um filho. Ex-funcionário de uma loja de ferragens, criou o garoto com se fosse seu. Migrou há 15 anos, e nunca mais voltou à Bahia para rever os pais.
Alex também não via mais um parente: o irmão gêmeo, Alexandro, que cumpre pena por porte de entorpecentes, foi transferido para o interior.
Extrovertido e alegre, como é descrito pela família, Roberto gostava de funk e reggae. Nos domingos de folga, jogava bola com os amigos.
Alex é visto de forma parecida: um brincalhão que só fazia gracinha. Fã dos rappers Snoop Dogg e Negra Li, adorava andar de bicicleta e ir às peladas no Cingapura.
Nenhum dos dois concluiu os estudos. Ambos tinham apelidos semelhantes: Roberto era chamado de Nego Leco ou Negão; Alex de Nego.
O baiano falava em retornar a Ilhéus; o paulistano sonhava em comprar uma casa para mãe e uma motocicleta.
Quando os dois conseguiram emprego (para fazer a limpeza dos canteiros da marginal Pinheiros), mostraram às famílias o uniforme novo, com orgulho. Estavam felizes.
Alex e Roberto se conheceram há pouco e ficaram amigos; viviam contando piada.

Fabio Braga -22.ou.10/Folhapress
Motorista embreagado, em Hilux, atropelou tres garis, sendo que dois deles morreram no local
Motorista embreagado, em Hilux, atropelou tres garis, sendo que dois deles morreram no local
Na manhã do sábado (22), dia em que Alex completou 12 dias no serviço, e Roberto, quatro, a Hilux dirigida em alta velocidade pelo gerente de banco Fernando Mirabelli, 32, arrastou os dois pela marginal. Segundo a polícia, o motorista admitiu ter bebido.
Mirabelli foi solto após pagar uma fiança de R$ 50 mil, quantia que a dupla só conseguiria juntar depois de quase sete anos de trabalho.
O pai de Roberto, que nunca tinha vindo a São Paulo visitar o filho, pegou um voo correndo para enterrá-lo. Os dois foram sepultados na segunda, no cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, em SP.