UM ANO APÓS ENCHENTES MORADORES CONTINUAM EM ABRIGOS

PAULO MELO CORUJA NEWS

Um ano após enchente, moradores seguem em abrigos no litoral do PR

Em 11 de março de 2011, chuva alagou e provocou deslizamentos na Serra.
Prefeito de Morretes critica governo estadual por demora em obras.

Bibiana Dionísio Do G1 PR
 
Um ano depois das fortes chuvas que atingiram a Serra do Mar, no Paraná, provocando enchentes, deslizamento de terras, destruição de rodovias e mortes, alguns moradores de Morrestes, um dos municípios mais atingidos, permanecem em abrigos públicos. Neste domingo (11), a data é lembrada pela cidade e a sensação de muitos é de que foi um tempo perdido no qual os problemas não foram solucionados.

“Vou ser sincero, é péssimo. Imagine que nós estamos há um ano dentro dos abrigos de Morretes e o prefeito nunca foi fazer uma visita para a gente. Mas se a gente vai falar passa por ruim”, disse ao G1 Heleno Alves da Silva. O Heleno é analfabeto e não soube informar quantos anos tem. " O que eu sei é que eles [os políticos] não estão conseguindo resolver nada", desabafou.
Na foto, Heleno Alves da Silva, que está no lado direito, aparece com estudantes da UFPR Litoral (Foto: Divulgação/ UFPR Litoral)Na foto, Heleno Alves da Silva, que está no lado direito, aparece com estudantes da UFPR Litoral que realiza um trabalho de geração de renda na cidade (Foto: Divulgação/ UFPR Litoral)
Ele reclama que desde que perdeu a casa na enchente não consegue emprego. “Eu trabalhava na roça, ganhava pouquinho, mas, dava para eu me manter e manter meu filho, pagar minha luz em dia e comprar uma coisinha para a casa”, contou. Agora, Heleno faz alguns trabalhos temporários, que chama de bico, e segue na procurar por um novo emprego. " Dizem que é necessário ter segundo grau, mas, eu vou perguntar, a senhora acha que para roçar um mato ou varrer uma rua é preciso ter segundo grau? O que eu sei é trabalhar”, afirmou Heleno.
Chuvas no litoral (Foto: Beto Richa/Governo do Paraná/Divulgação)Em todo o litoral milhares de pessoas ficaram
desalojadas e desabrigadas
(Foto: Beto Richa/Governo do Paraná/Divulgação)
Ao relembrar da chuva do último ano, Heleno conta que ficou desesperado porque nunca havia visto algo parecido. “Se fosse só pela água, mas o problema é que a gente via madeira descendo”.
A família de Heleno é formada apenas por ele e pelo filho de sete anos e isso, segundo ele, adiou ainda mais o momento de ter novamente uma casa. Ele foi informado que não será beneficiado neste primeiro lote de 30 residências populares construídas pela Companhia de Habitação Paranaense (Cohapar).

Assim como Heleno, a jovem Renata Pereira dos Santos, de 18 anos, está abrigada no alojamento da Federação Espírita Jesus Maria José. Ainda existem mais duas casa na cidade, na comunidade de Sambaqui,  utilizadas como alojamento.

Renata conta que engravidou no abrigo e que tem esperança de voltar para a casa logo. “Depois de um ano continuar em abrigo é ruim, ficam todos empilhados aqui”. Ela está no alojamento com o marido, a filha de um mês e dez dias, com mãe de 56 anos e com o pai de 59. A jovem lembra que no dia da chuva os pais dela viram que a água estava subindo mais do que o normal e decidiram sair.
“Sempre alagava, mas não daquele jeito e meu pai resolveu voltar para salvar alguma coisa. Nisso veio a enxurrada e levou a casa, com geladeira, sofá e tudo. Por pouco meu pai não foi junto”, contou a jovem. O pai e a mãe de Renata ficaram dois dias em cima de um dos morros da comunidade da Floresta até serem resgatados pelo Corpo de Bombeiros com a ajuda de um helicóptero, já que o local estava isolado.
Depois de um ano continuar em abrigo é ruim, ficam todos empilhados aqui"
Renata Pereira dos Santos
“Eu quero ir para a minha casa logo. Estou esperançosa para fazer o que eu quero, comprar móveis...Tentar, né! Queria arrumar um bom serviço”, comenta Renata.

A professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Litoral  Édina Mayer Vergara, que participa do projeto Geração de Renda para os Refugiados Ambientais de Morretes, destacou que esta demora para realocar a população fez com que muitos desrespeitassem a orientação da Defesa Civil de não voltar para as casa que estão em áreas de risco. Segundo ela não houve nenhuma espécie de diálogo com os moradores que perderam as casas.

"Esses moradores faziam parte da área rural e possuíam uma ligação estreita com a terra, mas, após a tragédia, terão que residir na área urbana. Essas pessoas só sabem plantar, muitas são analfabetas. Ninguém perguntou se eles queriam viver na cidade e sequer pensaram em emprego. Essas pessoas vão viver do quê?”, questionou Vergara.