ALGACY TULIO: A GENTE COMPRAVA NOTA DE PUBLICIDADE E RECEBIA DA CÂMARAA

PAULO MELO CORUJA NEWS

Quinta-feira, 26/04/2012
Antônio More/ Gazeta do Povo
Antônio More/ Gazeta do Povo / “A gente comprava nota. Muitos [comunicadores] que não têm empresa compram nota de uma empresa de publicidade.” Algaci Túlio (PMDB), vereador.“A gente comprava nota. Muitos [comunicadores] que não têm empresa compram nota de uma empresa de publicidade.” Algaci Túlio (PMDB), vereador.
NEGÓCIO FECHADO

Bancada dos radialistas recebia verba da Câmara

Recursos de publicidade foram destinados a programas de rádio e empresas de servidores que trabalhavam no gabinete de vereadores que fazem parte do grupo dos  Comunicadores
  KATIA BREMBATTI, KARLOS KOHLBACH, JAMES ALBERTI E GABRIEL TABATCHEIK


Notas fiscais revelam que parte da verba de publicidade da Câmara Municipal de Curitiba, nos últimos cinco anos, foi destinada a veículos de comunicação de parlamentares. O vereador Algaci Túlio (PMDB) e o ex-vereador Luís Ernesto (PSDB) admitiram que dinheiro do Legislativo foi gasto em seus programas de rádio. “A verdade é que existia uma verba para os vereadores que têm meio de comunicação pra publicitar a Câmara”, disse Algaci Túlio (leia mais na página seguinte). Outros três políticos – o vereador e atual líder do prefeito, Roberto Hinça (PSD), o ex-vereador e secretário estadual Mario Celso Cunha (PSB) e o ex-vereador Valdenir Dias (PMN) – tiveram em seus gabinetes funcionários que assinam recibos de serviços publicitários prestados à Câmara.
Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo / “É uma surpresa. Novidade. O Johnny [Luiz Chemberg] eu sabia [que tinha empresa], ele trabalha nessa área.” Mário Celso Cunha (PSB), ex-vereador e atual secretário estadualAmpliar imagem
“É uma surpresa. Novidade. O Johnny [Luiz Chemberg] eu sabia [que tinha empresa], ele trabalha nessa área.” Mário Celso Cunha (PSB), ex-vereador e atual secretário estadual
Algaci admite que comprou notas
Vereador conta que foi oferecida a todos da bancada dos comunicadores a oportunidade de fazer anúncios da Câmara em seus programas.
Deputado pede expulsão de Derosso
O deputado federal Fer­­nando Francischini oficializou ontem ao presidente da executiva estadual do PSDB, o deputado estadual Valdir Rossoni, o pedido de expulsão do ex-presidente da Câmara Municipal de Curitiba João Cláudio Derosso do partido.
A ponta do iceberg
Menos de 10%
A série Negócio Fechado é fruto de um trabalho de investigação feito por repórteres da Gazeta do Povo e da RPC TV. Durante três meses, a equipe de jornalistas montou uma base de dados com informações contidas em mais de 10 mil páginas referentes à execução do contrato de publicidade da Câmara Municipal de Curitiba. A documentação consultada representa menos de 10% dos R$ 34 milhões gastos com propaganda pelo Legislativo.
A reportagem analisou notas fiscais, recibos, contratos, certidões e cópias dos serviços prestados por empresas subcontratadas pelas agências Visão Publicidade e Oficina da Notícia, que venceram a licitação de publicidade da Casa.
Ex-vereador confessa que esposa negociava repasses
O ex-vereador e radialista Luís Ernesto (PSDB) confirma que em parte do seu programa de rádio era custeado pela verba de publicidade da Câmara. Ele conta, assim como o vereador Algaci Túlio (PMDB), que todos os vereadores da bancada dos comunicadores recebiam recursos do Legislativo municipal para seus programas. “Na época que eu era vereador, todos os vereadores que faziam programas de rádio, como acontece até hoje, recebiam dinheiro”, diz.
Luís Ernesto confirma que a empresa da sua mulher, Ieda Maria Alves Pereira, é que intermediava o repasse de recursos públicos para o seu programa, que para ele funcionava como “uma segunda tribuna”. Apesar disso, ele garante que também falava do trabalho dos colegas. “Falava da ordem do dia [projetos em discussão para votação], entrevistava vereadores”, conta.
Salários
Já sobre a contratação de Ieda na Câmara, ele nega que ela tenha recebido salários enquanto trabalhava no Legislativo municipal. “Já foi [funcionária]. Durante quatro anos ela trabalhou no meu gabinete, mas nunca recebeu absolutamente nada”, alega.
A assessoria de imprensa da Câmara, no entanto, confirmou que Ieda recebeu vencimentos no período em que esteve nomeada. Ainda de acordo com a assessoria, Ieda só foi exonerada da Casa no dia 18 de abril – após a reportagem procurar Luís Ernesto para que explicasse a relação com a empresa.
A ligação mais próxima entre político e empresa beneficiária de recursos do Legislativo é a do ex-vereador Luís Ernesto com a Nave Locação e Publicidade. A mulher do ex-vereador, Ieda Maria Alves Pereira, é sócia da empresa, que recebeu ao menos R$ 56 mil de verba de propaganda da Câmara, através da agência Visão Publicidade. Parte desse valor foi destinado ao programa de rádio de Luís Ernesto ainda no período em que ele era vereador – o último mandato de Luís Ernesto foi de fevereiro de 2007 a dezembro de 2008.
Além disso, os documentos a que a reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV teve acesso mostram pagamentos mensais a Nave Locação e Publicidade no valor de R$ 8 mil nos meses de janeiro a março de 2007 e de julho a outubro de 2009. Nesses períodos, Ieda era funcionária da Câmara e por isso não poderia ser prestadora de serviços privados ao Legislativo. Isso porque a Lei de Licitações proíbe servidores do órgão pagador de terem relações comerciais com a instituição pública em que trabalham.
Nello Roy Morlotti, ex-servidor do gabinete de Algaci Túlio, também prestava serviços publicitários para a Câmara. Ele é dono da Holden Serviços Técnicos e foi funcionário do vereador de janeiro de 2009 a maio de 2010.
Uma das notas fiscais apresentadas pela Holden em julho de 2009 faz referência à publicação de uma reportagem no blog do próprio vereador. A Holden recebeu ao menos R$ 4 mil da Câmara – o total de pagamentos pode ser maior porque a reportagem teve acesso a documentos que representam apenas R$ 2 milhões dos R$ 34 milhões gastos pela Câmara com publicidade entre 2006 e 2011.
A empresa Men & Cia emitiu, no mínimo, três notas fiscais, de R$ 12 mil cada uma, pela divulgação de publicidade da Câmara. No momento dos pagamentos de setembro e outubro de 2009, Laércio Men, sócio da empresa, estava lotado na comissão de Cultura do Legislativo. Mas em dezembro de 2010, quando cobrou mais um pagamento por serviços publicitários, ele era funcionário do vereador Roberto Hinça.
Funcionária do gabinete do então vereador Mario Celso Cunha – hoje secretário estadual da Copa –, Natacha Kosiski é sócia de uma empresa que recebeu ao menos R$ 210 mil para publicidade da Câmara nos dois anos em que a servidora esteve lotada no Legislativo.
Documentos também mostram que propagandas da Câmara foram veiculadas no programa de tevê de Johnny Luiz Chemberg, que é funcionário da Câmara há pelo menos seis anos, atualmente lotado nas comissões.
Jornal
Maria Eliana de Lima é sócia da Editora Femoclan – responsável pelo jornal da Femoclan –, que recebeu ao todo R$ 39,5 mil de publicidade da Câmara nos anos de 2007 a 2009. Em parte do período em que os pagamentos foram feitos, ela estava lotada no gabinete do então vereador Valdenir Dias – de 2006 a abril de 2008.
Como mostrado na edição de ontem da Gazeta do Povo, o jornal Folha do Boqueirão recebeu recursos da Câmara Municipal. A publicação esteve vinculada ao vereador Francisco Garcez (PSDB) até setembro de 2011, de acordo com o registro da empresa na Junta Comercial.
VIDA PÚBLICA | 1:28

Algaci Túlio admite uso de notas frias

Vereador diz que usava "estratégia" para receber verba da Câmara. Segundo ele, outros parlamentares também recebiam dinheiro de publicidade do Legislativo municipal