SUSPENSÃO REBAIXADA DE CARRO ONDE NEM ESTAVA DESPERTOU ATENÇÃO DA POLICIA

PAULO MELO CORU

Suspensão rebaixada de carro onde Nem estava despertou atenção de PMs

O traficante estava escondido no porta-malas do automóvel com R$ 180 mil

Anderson Dezan, iG Rio de Janeiro 

Foto: Agência O Globo
O traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes estava escondido no porta-malas de um carro
A suspensão rebaixada do Toyota Corolla onde Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, estava escondido acabou sendo uma peça fundamental para a prisão do traficante mais procurado do Rio de Janeiro. De acordo com a Polícia Militar, esse detalhe despertou a atenção de soldados do Batalhão de Choque que pararam o automóvel para revistá-lo.
Leia também: “O sentimento é de missão cumprida”, diz policial sobre prisão de Nem
“A guarnição verificou que a suspensão do carro estava muito baixa, além do normal. Os policiais suspeitaram que havia algo no porta-malas. Ao serem questionados, os passageiros disseram que tinha muito dinheiro nela, aproximadamente R$ 1 milhão. Mas a guarnição reparou alguns movimentos no porta-malas e dinheiro não se mexe”, ironizou o tenente coronel Fábio Almeida de Souza, comandante do Batalhão de Choque.
Segundo a equipe que participou da ocorrência, outro detalhe também chamou a atenção dos agentes. “Além do carro estar muito pesado, havia marcas de mãos na lataria. Como o automóvel estava limpo, as digitais ficaram marcadas”, relembrou o tenente Ronald Cadar.

Foto: Divulgação/Disque-Denúncia 
Disque-Denúncia oferecia recompensa por informações que levassem ao traficante Nem
Tentativa de suborno
Cinco policiais militares pararam o Toyota Corolla em um bloqueio montado na Rua Marquês de São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio, próximo à Escola Parque. Quatro homens estavam a bordo do veículo e um deles disse ser cônsul honorário da República Democrática do Congo.
Leia também: PM vai divulgar números para população denunciar traficantes da Rocinha
Alegando imunidade diplomática, ele não autorizou a revista no carro. Os policiais militares decidiram, então, acionar a Polícia Federal e levar o automóvel para a sede da instituição no centro do Rio. Um comboio foi montado para acompanhar o carro, com uma viatura da polícia na frente, outra atrás e uma terceira ao lado.
“O homem que disse ser cônsul alegou que nem em um país em guerra ele passaria por um constrangimento desse. Dissemos que era uma questão de segurança nacional”, relatou Cadar. “A orientação dada era revistar todos os carros. A equipe aceitou a missão e ela foi cumprida”, completou.
Já no bairro da Lagoa, próximo ao Cinépolis Lagoon, o motorista que dirigia o Toyota Corolla parou. Um homem identificado como Demóstenes, que seria advogado, ofereceu R$ 20 mil aos agentes para que o carro fosse liberado.
“Ele perguntou se R$ 20 mil deixava tudo bem. Como não surtiu efeito, o advogado disse que poderia fazer de outra forma porque no porta-malas tinha mais dinheiro, aproximadamente R$ 1 milhão”, contou Ronald Cadar, completando que os PMs recusaram novamente a oferta e disseram que todos seguiriam para a sede da Polícia Federal.
Escondido no porta-mala
Ainda no bairro da Lagoa, na Avenida Borges de Medeiros, próximo ao Clube Naval, o Toyota Corolla parou mais uma vez. “Eles estacionaram em um recuo e disseram que não iriam sair dali”, relembrou Cadar. Com a resistência, os policiais que estavam no comboio acionaram reforço.
Policiais federais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes foram ao local e fizeram a revista no automóvel. O traficante Nem estava escondido no porta-malas do automóvel. Ao seu lado, estavam R$ 60 mil e 50 mil euros, totalizando, aproximadamente, R$ 180 mil.
“Mesmo estando com um visual diferente, o reconhecemos na hora. Ele não disse nada. Colocou as mãos em sinal de rendição e se entregou”, contou Ronald Cadar.
O coronel Alberto Pinheiro Neto, chefe do Estado Maior Operacional da Polícia Militar, parabenizou os policiais envolvidos na ação. “No meio de centenas de carros, eles reparam no detalhe da suspensão. Foram alvos de uma tentativa de suborno e receberam ‘carteirada’, mas seguiram em frente. Essa é a essência da polícia, um agente honesto que acredita no seu trabalho”, declarou.