CHICO ANÍSIO O HUMOR NO CÉU

PAULO MELO CORUJA NEWS
Henrique Oliveira/Agência O Globo
Henrique Oliveira/Agência O Globo / Nizo Neto e Bruno Mazzeo, filhos do humorista Chico Anysio, chegaram ao Theatro Municipal, para o velório do pai Nizo Neto e Bruno Mazzeo, filhos do humorista Chico Anysio, chegaram ao Theatro Municipal, para o velório do pai
Luto

Corpo de Chico Anysio é velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

O comediante morreu na sexta-feira, aos 80 anos, depois de passar três meses internado. O velório é aberto ao público e o corpo do humorista será cremado
Gazeta do Povo 
Centenas de pessoas estiveram neste sábado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro para acompanhar o velório do humorista Chico Anysio, morto na sexta-feira (23), aos 80 anos. O corpo chegou ao teatro por volta das 6h30. Em seguida, vieram os filhos Nizo Netto e Bruno Mazzeo, mas não quiseram dar entrevistas.
Guto Maia / Folhapress
Guto Maia / Folhapress / Fãs do humorista Chico Anysio deixam flores na entrada do Teatro Municipal, no Rio de Janeiro  
Fãs do humorista Chico Anysio deixam flores na entrada do Teatro Municipal, no Rio de Janeiro
Ao mestre com carinho!
Chico Anysio é um gênio do humor! O comediante precisa ter varias qualidades: carisma, timing, versatilidade, presença de espírito, capacidade de improvisação, saber incorporar o personagem, fazer vozes, escrever seu próprio texto, criar personagens, criar piadas factuais e ter uma capacidade de observação acima do normal. Difícil é reunir todas estas qualidades em uma só pessoa. Assim era Chico Anysio.
Influência e elogios
Passar a infância assistindo ao humor de Chico Anysio fez de Fábio Silvestre não apenas um fã e comediante, mas também plantou nele um sonho: assistir no teatro aos personagens do mestre. Isso porque Chico, apesar de ter criado mais de 200 tipos engraçados para a televisão, se apresentava ao vivo de “cara limpa”, em smoking, numa espécie de protocomédia stand-up. Usava as vozes de suas criações, mas o foco eram as piadas.
O desejo de Fábio não se realizou, mas deu lugar a algo ainda melhor: em junho de 2008, em pleno Guairão, ele apresentou seus próprios personagens, saídos do show Curitiba em Comédia, numa sessão aberta por ninguém menos que o ídolo Chico Anysio.
Conheça a trajetória de Chico Anysio
Nascido em 12 de abril de 1931, em um pequeno sítio em Maranguape, no Ceará, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho tornou-se um dos mais renomados humoristas do país.
Aos 8 anos de idade, Chico Anysio e a família deixaram a pequena Maranguape e mudaram-se para o Rio de Janeiro. Na infância, ele já mostrava sua veia humorística ao imitar vozes e trejeitos de professores e colegas de classe.
Na adolescência, ganhava concursos de programas de calouros nas rádios do Rio e de São Paulo fazendo imitações. Foi até impedido de participar dos concursos, pois sempre saia vencedor. Em 1947, conquistou o primeiro lugar no programa Papel Carbono, de Renato Murce, líder de audiência na Rádio Nacional do Rio, na época.
A carreira no rádio começou por acaso. Ao acompanhar a irmã e atriz Lupe Gigliotti em um teste na Rádio Guanabara, acabou sendo aprovado e contratado como locutor e rádio-ator. Ficou em segundo lugar no teste de locutor, perdendo para o apresentador Sílvio Santos. Na rádio, apresentava a programação musical e interpretava galãs nas rádio-novelas. Em 1949, passou a integrar os humorísticos da emissora, trabalhando ao lado de outros grandes comediantes, como Grande Othelo e Luis Brandão.
 

Coube à sobrinha, a diretora Cininha de Paula, falar pela família: "Uma vez me perguntaram o que é ser sobrinha do Chico. É um privilégio de poucos", disse. A viúva do humorista, Maga Di Paula, estava muito abalada. Às seis horas, ela havia postado em sua conta no Twitter: "a dor é dilacerante".
Pela manhã, o velório ficou restrito a amigos e parentes. Somente depois da chegada da ex-mulher Zélia Cardoso de Mello, que vive em Nova York com dois filhos de Chico, a cerimônia seria aberta para o público. Isso estava previsto para ocorrer às 14 horas. O corpo do humorista será cremado domingo (25), no Cemitério São Francisco Xavier.
Do lado de fora do teatro, centenas de fãs e curiosos aglomeravam-se em torno de famosos. A Rede Globo contratou seguranças, que tentavam conter a aproximação dos fãs e da imprensa. Coroas de flores em homenagem a Chico enfeitavam as escadarias do Theatro Municipal. Foram enviadas por autoridades como a presidente Dilma Rousseff, o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes, e amigos, como o diretor Daniel Filho, e o ex-jogador Roberto Dinamite, presidente do Vasco da Gama, time pelo qual Chico torcia.
Entre os artistas presentes ao velório, estavam "ex-alunos" da Escolinha do Professor Raimundo David Pinheiro, que interpretava o Armando Volta, que chamava o professor de "Somebodylove", Iran Lima, o Cândido Manso, e Claudia Mauro, que fazia a Dona Capitu, a aluna preferida. "Foi meu mestre, meu amigo querido. Uma das pessoas mais incríveis e mais generosas que eu conheci na minha vida", disse Claudia, emocionada.
Marcos Veras, colega de Chico no Zorra Total, contou que o humorista vinha gravando no Projac, mesmo em cadeiras de rodas. "Durante a gravação, ninguém percebia a fragilidade do estado de saúde dele. Ele só gravou uma vez em casa. Isso demonstra o profissionalismo dele e a paixão pelo trabalho. Toda família de artistas vai continuar o legado dele. A despedida é sempre muito triste. Você está perdendo além do homem maravilhoso, um grande artista", afirmou. Também estiveram presente os atores Hélio de la Peña, Lucinha Lins, Marília Pêra, Glória Pires, Antonio Grassi, Leandro Hassum, os diretores Daniel Filho, Maurício Sherman e Boninho, entre outros.

Internação
Chico Anysio deu entrada no hospital com hemorragia digestiva. Na quinta-feira (22), os médicos chegaram a submeter o paciente a um processo cirúrgico para uma drenagem na pleura, a membrana do pulmão, já que ele sofria de um enfizema pulmonar provocado pelo uso excessivo de cigarros. Chico Anysio estava na unidade de tratamento intensivo e respirava com a ajuda de aparelhos. Segundo a assessoria de imprensa hospital, Chico Anysio teve duas paradas cardíacas.
Os problemas de saúde do humorista começaram em agosto de 2010, quando foi internado para retirada de parte do intestino por causa de uma hemorragia e foi diagnosticado com pneumonia. Desde então, foram diversas internações. No ano passado, ficou internado por quase quatro meses por causa de complicações cardiorrespiratórias.

Carreira
Sua vida humorística começou na Rádio Guanabara, em meados dos anos 1940, quando ficou em segundo lugar nos testes promovidos pela emissora, ficando atrás apenas de Silvio Santos, atual dono do canal SBT, e passou a imitar vozes e atuar em programas de humor.
Mudou-se para a Rádio Mayrink Veiga, onde escrevia três programas semanais. Foi lá que nasceu a Escolinha do Professor Raymundo, um dos seus principais personagens que, segundo o próprio Chico, foi "o primeiro gol da minha vida".
Com o sucesso no rádio, o quadro do "professor" ganhou uma versão na televisão no fim dos anos 1950 e chegou à TV Globo na década de 1970, fazendo parte de outros programas. Após passar por várias adaptações, o quadro estreou como programa em 1990, e a Escolinha do Professor Raimundo abriu espaço para humoristas da velha guarda e ajudou a descobrir novos talentos.
"Foi no Chico City, por volta de 1974, que o professor Raymundo deixou de ser uma sabatina e passou a ser uma aula. Ali eu podia usar os antigos comediantes que já não tinham possibilidade de segurar um esquete inteiro", disse o humorista em seu site oficial.

Professor
Com 209 personagens criados ao longo da carreira, como Alberto Roberto, Apolo, Baiano, Justo Veríssimo, Nazareno, Painho, entre outros, Chico inspirou e ensinou artistas de várias gerações e é considerado por muitos deles o eterno "professor" do humor brasileiro.
Também atuou em diversos filmes, novelas e especiais, além de ter lançado o livro "É Mentira, Chico", em 2007.
Chico, que já foi enredo de escola de samba e homenageado em vários programas especiais, fez 10 mil espetáculos por todo o país e chegou a se apresentar na prestigiosa casa de shows Carnegie Hall, em Nova York, nos Estados Unidos. No entanto, ele se dizia tímido.
"A timidez faz de mim um cara particular. Digo sempre que mais de dois, para mim, é piquenique. O grande passeio da vida é ficar em casa", afirmou ele em sua biografia.
O humorista teve oito filhos, entre eles os atores Lug de Paula, (famoso pelo personagem Seu Boneco, da Escolinha do Professor Raimundo), Nizo Neto (o seu Pitolomeu, também da Escolinha) e Bruno Mazzeo (ator e roteirista).
Irmão da falecida atriz Lupe Gigliotti, Chico Anysio era casado com a fisioterapeuta Malga Di Paula. Antes, foi casado com as atrizes Nancy Wanderley, Rose Rondelli e Alcione Mazzeo, com a cantora Regina Chaves e com a ex-ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello.

Dilma Rousseff lamenta morte de Chico Anysio
A presidente Dilma Rousseff lamentou a morte do humorista. Em nota, Dilma disse que Chico Anysio “foi um dos artistas mais brilhantes” do Brasil, elogia personagens criados pelo humorista e manifesta solidariedade à família e amigos do ator.
“Chico Anysio foi um dos artistas mais brilhantes que o nosso país já produziu, exercendo várias funções em diversos veículos de comunicação durante mais de seis décadas. Com o seu talento e sensibilidade, criou e interpretou caricaturas inesquecíveis de tipos humanos. Trabalhou incansavelmente durante toda a vida para levar alegria e diversão aos brasileiros. Nessa hora de tristeza, quero me solidarizar com os seus parentes, amigos e com toda a legião de admiradores que conquistou com sua criatividade”, diz a íntegra da nota divulgada pela presidenta no começo da noite.

Luto oficial
Os governos do Ceará e do Rio lamentaram a morte de Chico Anysio na tarde desta sexta-feira (23), e decretaram luto oficial de três dias pela perda.

Cid Gomes, governador do Ceará, citou Chico como um inspirador que "criou escola" e fez do Estado um "celeiro de grandes humoristas". "Cala-se o extraordinário profissional do riso, silenciam seus personagens inesquecíveis, que durante décadas traduziram, com graça e fino humor, as esperanças, angústias e alegrias do nosso povo", disse em comunicado.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, lamentou a morte do artista e disse que “Chico soube fazer com maestria e leveza a transição do rádio para a televisão. Divertiu e semeou para sempre este encanto a todos os brasileiros com os seus mais de 200 personagens”.

Personagens


Alberto Roberto: Ator e apresentador de talk show, considerava-se um símbolo sexual. Usava touca de renda na cabeça e frequentemente interpelava seus entrevistados com um "por quê?". Seu estrelismo muitas vezes irritava o diretor Da Júlia (Lúcio Mauro).
Bordões: "Não garavo!" r "Eu sou um símbalo sescual."
Azambuja
Paulo Maurício Azambuja era um malandro carioca, ex-jogador de futebol do Bonsucesso e que participou de um conjunto musical na juventude. Vivia aplicando golpes em parceria de Linguiça (Wilson Grey) e é filho de Dona Lupicínia (Haydée Fernandes).
Bordão: "Tô contigo e não abro!"
Bento Carneiro
Valdevino Bento Carneiro era um vampiro brasileiro. Com um sotaque caipira, se apresentava como "aquele que vem do aquém do além, adonde que véve os mortos". Morava em seu castelo junto de seu assistente corcunda Calunga (Lug de Paula, filho de Chico). Nunca conseguia assustar alguém: ao contrário, era medroso e desnutrido.
Bordões: "Bento Carneiro, vampiro brasileiro... pzztt!"; "Tomou, papudo?"; "Não creu neu, se finouce."; "Minha vingança sará malígrina!"
Bozó
Sérgio Dias Magalhães Marinho era, supostamente, o nome de Bozó, que afirmava para todo mundo ser funcionário da Rede Globo. Suas marcas registradas era os dentes proeminentes e a gagueira. Sua namorada era Maria Angélica (Alcione Mazzeo, mãe de seu filho Bruno Mazzeo), que também usava óculos de grau com lentes grossas
Bordão: "Eu-eu trabalho na Globo, tá legal!?"
Cascata
Armando Cascata era um palhaço que fazia dupla com seu filho Cascatinha (Castrinho). O quadro fez tanto sucesso que Cascatinha, cujo bordão era "Meu pai-pai!", apresentou o programa infantil Balão Mágico e quadros próprios em outros programas humorísticos.
Bordão: "Meu garoto!"
Coalhada
Otavio Arlindo Antunes do Nascimento era um futebolista estrábico, de cabelos encaracolados, que já havia exibido seu futebol em muitos clubes, com a ajuda de seu empresário, Bigode (Amândio Silva Filho). Inspirado no meia Socrates (craque dos anos 80 e jogador da Seleção Brasileira). Era um perna-de-pau que vivia se defendendo das críticas de torcedores e comentaristas esportivos.
Bordões: "Mas hein!?" e "Depois eles dizem que o Coalhada é isso, que o Coalhada é aquilo..."
Divino
João Lírio do Amor Divino era um guru sem religião, que preferia dar consultas às mulheres. Iludia as pessoas, com a ajuda de seu assistente Serafim (Martim Francisco), se fazendo passar por líder de uma seita religiosa.
Bordões: "Divino sabe, divino diz"; "Divino cura, sara, purifica e... machuca."
Haroldo
Haroldo P. Brazão era um personal trainer homossexual que tentava, em vão, convencer que era heterossexual. Sempre era lembrado de seu antigo codinome -- Luana -- pelo amigo Leon (Paulette/Eduardo Martini).
Bordões: "Pára com isso! Eu sou Haroldo, o hétero machão"; "Agora sou hétero. Mordo você todinha!"
Justo Veríssimo
Justo Veríssimo de Santo Cristo era um político corrupto que tinha ojeriza aos pobres. No programa Zorra Total, seu segurança era Cadelo (Nizo Neto, outro filho de Chico).
Bordões: "Não sou feio: sou exótico"; "Tenho horror a pobre!" e
"Quero que pobre se exploda!"
Nazareno
Nazareno Luís do Amor Divino era um funcionário público que tratava mal a sua esposa Sofia (Leila Miranda/Thelma Reston), por ela ser muito feia. Em contrapartida, Nazareno vivia elogiando a empregada (Monique Evans/Gisele Fraga).
Bordões: "Ca-la-da! Senta aí!"; "Isso não é mulher..."; "Eu estava de porre, naquele tempo eu bebia..."; "Tanta gente é e não sabe. Eu doido pra ser e não consigo!" e "Tá com pena? Leva pra você!"
"Vai dizer que você não trocava?!"
Neyde Taubaté
Neyde Maria Aparecida Taubaté era uma âncora de telejornal, o Jornal do Lobo.
Bordão: "Uau... Não é mesmo?"
Painho
Ruy de Todos os Santos era um pai-de-santo homossexual baiano. VIPs da sociedade de Salvador sempre requisitavam os serviços de Painho para que ele lhes lesse a sorte e o futuro
Bordões: "Afffe! Eu tô morta!" e "Eu sou doooido por essa neguinha."
Pantaleão
Pantaleão Pereira Peixoto era um aposentado que estava sempre a contar histórias falsas em sua cadeira de balanço. Na companhia de sua esposa Tertuliana (Suely May) e de Pedro Bó (Joe Lester), um adulto com postura de criança, adotado por ele.
Bordões: "É mentira, Terta?" e "Pois bom, numa ocasião em 1927...".
Professor Raimundo
Raimundo Nonato Nepomuceno era um professor que dedicou sua vida ao magistério e, como típico professor brasileiro, é mal remunerado. Comandou por anos sua escolhinha de personagens engraçados e exóticos.
Bordões: "E o salário, ó!"; "Vai comendo, Raimundo..."; "É vapt-vupt!";
Profeta Jesuíno
Era um profeta de voz grave e pausada, com cabelos e bigodes brancos e compridos, que ensinava seus provérbios no encerramento dos programas.
Bordão: "Podem ficar à vontade..."