O VOTO É DO ELEITOR OU NÃO?

PAULO MELO CORUJA NEWS



'O voto pertence ao eleitor', diz analista sobre eleição em 


Curitiba

Cientista político coloca em xeque transferência de votos por lideranças.
Para ele, Fruet venceu a eleição por possuir perfil parecido com o de Ducci.

Fernando CastroDo G1 PR
 
Ducci e Fruet (Foto: Sérgio Tavares Filho/G1 PR)Ducci e Fruet representam perfil parecido para os eleitores, diz analista (Foto: Sérgio Tavares Filho/G1 PR)
O resultado do segundo turno da eleição em Curitiba mostrou que o prefeito eleito Gustavo Fruet (PDT) conseguiu avançar com mais eficiência sobre os votos dos adversários derrotados no primeiro turno do que o concorrente direto na disputa, Ratinho Jr. (PSC). Para o cientista político da Universidade Federal do Paraná Emerson Cervi, ficou claro que as declarações de apoio concedidas pelos políticos nem sempre influenciam a cabeça do eleitor.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Fruet recebeu 60,65% dos votos, ou 597.200 eleitores. Ratinho Jr, por sua vez, recebeu 387.483 votos, totalizando 39,35%. Enquanto Fruet cresceu 331.749 votos em relação ao primeiro turno, Ratinho Jr. incrementou a votação em apenas 55.075 eleitores no segundo turno, mesmo tendo recebido o apoio expresso de Rafael Greca (PMDB), que fez 101.866 votos e obteve a quarta colocação na disputa.
Cervi sugere que se Greca tivesse percebido a aproximação dos eleitorados e decidido pelo apoio a Fruet, a transferência de votos ocorreria da mesma forma, e ele não poderia ser questionado. “O Greca conseguiu o mais difícil, ele disse o contrário, disse: ‘Eu tenho responsabilidade sobre os meus votos’.”, analisou o cientista político, que classificou os eleitorados de ambos como “conservadores”.“O caso do Greca é muito ilustrativo. O voto pertence ao eleitor e não à liderança política. O principal capital que ele tem é a capacidade de mobilização dos eleitores, e eles sempre dizem que conseguem controlar os eleitores da base deles. O problema é que não se consegue verificar isso na prática”, afirmou Cervi ao G1. Para o professor, a divisão de votos por regiões da cidade no primeiro turno mostrou uma aproximação muito maior dos votos de Greca com os obtidos por Gustavo Fruet.
Para justificar a afirmativa, Cervi lembrou que a eleição de 2012 guardou uma peculiaridade em relação ao usual em Curitiba. “A eleição levou dois candidatos da oposição para o segundo turno. O que acontece normalmente é ir um candidato da situação e um oposicionista, o que faz com que ambos tentem se aproximar do ‘meio’ - não ser tão radical, nem tão governista’.”, afirmou. Nesta eleição, segundo Cervi, estavam sobrando os votos do governo, os quais foram transferidos para FruetFruet venceu o adversário nas outras oito zonas 
“Quem votou no Ducci no primeiro turno precisava votar em alguém no segundo turno. Este eleitor tinha que votar em alguém com perfil mais próximo do perfil dele, e o Fruet estava mais perto do perfil do Ducci. O Fruet fez uma campanha menos crítica, mais assertiva, e conquistou nove em cada dez votos no segundo turno”, observou o professor.
Essa apropriação dos votos de Ducci ficou refletida no crescimento da candidatura de Fruet na região sul de Curitiba, aonde o prefeito eleito chegou a triplicar os votos recebidos em relação ao primeiro turno. Apesar de ainda perder para Ratinho Jr. (PSC) na 145ª e na 175ª zonas eleitorais, a margem de diferença foi menor. “Se comparar com a votação que o Ducci fez no sul, vai ver que, claro, o Fruet cresceu um pouco, mas a explicação está justamente nessa transferência. Metade dos eleitores de lá já tinham votado no Ratinho, e quem não votou nele no primeiro turno, dificilmente votaria no segundo”, concluiu Cervi.
eleitorais da cidade, sendo que a maior diferença foi na 117ª e na 178ª, nas quais o percentual de votos foi acima de 70%. Confira aqui o mapa com a votação completa por zonas eleitorais.