UMA VIAGEM PERIGOSA
Por Carlos ChagasEmbarcou o presidente Lula, ontem, para Israel e Palestina. É o primeiro governante brasileiro a viajar para o Oriente Médio, depois de D. Pedro II. Também visitará o Líbano.
Trata-se
de um risco desnecessário, apesar de um gesto não propriamente de boa
vizinhança, dada a distância que nos separa dessas duas nações, mas
elogiável por parte do presidente de um país que emerge no cenário
político internacional.
O
risco? De desagradar as duas comunidades em choque, em vez de
agradá-las. Em especial se praticar o improviso, senão nos
pronunciamentos oficiais, ao menos nas entrevistas e comentários que
certamente fará, provocado ou não. Alguém já disse, dois mil anos atrás,
naquela região, ser impossível servir a dois senhores ao mesmo tempo.
Nos tempos atuais, Israel e Palestina confrontam-se desde 1947, quando
as Nações Unidas recomendaram a criação de dois estados no mesmo
território, mas apenas um conseguiu formar-se.
Diante
da Autoridade Palestina, o Lula não poderá deixar de manifestar-se
pela criação do estado ainda inconcluso. Mas no parlamento israelense,
como será recebida sua exortação?
Estaremos
entrando gratuitamente num vespeiro que apenas o tempo, dependendo do
destino, se encarregará de resolver. Para que? Além de estarem acirradas
as expectativas entre as comunidades israelita e árabe incrustadas no
Brasil e convivendo em paz, fica óbvio que o presidente brasileiro
não levará em sua bagagem uma varinha de condão destinada a realizar o
milagre da convivência até hoje tentado e malogrado apesar das
tentativas dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia.
Nossas
viagens presidenciais ao exterior tem, geralmente, objetivos econômicos
e comerciais. Visam captar investimentos, sugerir parcerias e
celebrar contratos variados, capazes de beneficiar as partes. O que
poderá a Palestina oferecer-nos? E nós, àquela nação? Israel não se
sentirá agastado com a interferência brasileira? Em suma, uma viagem
perigosa.