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“Jucelino, Jango e Lacerda, (...) na minha cabeça, eu não
diria que nenhum deles morreu de morte natural. A suspeita e a dúvida
existem evidentemente. Se esta Comissão puder aprofundar com fatos e
testemunhas, penso que será da maior importância a apuração de tal
procedimento” (Miguel Arraes em depoimento a Comissão da Câmara dos
Deputados para apurar as circunstâncias da morte do ex-presidente João
Goulart). O ex-governador Miguel Arraes era um homem de bem, lúcido e
identificado profundamente com o Brasil. Saiu do país não por
oportunismo ou veleidades pessoais, mas por ter sido forçado pela
ditadura de 1964. Ele foi um dos primeiros a suspeitar de algo que salta
aos olhos, o fato de Jango ter sido esquecido e a sua morte pouco
estudada. A tese da morte natural de Jango é aceita por todos como a
história oficial e, por isso mesmo, não precisa ser defendida. Cabe ao
historiador sempre a dúvida, a pergunta que é a base da pesquisa
científica. E como dizia Max Weber, o elemento essencial na busca da
verdade científica: o interesse.
O contexto da morte do ex-presidente está sendo
examinado com seriedade pela nossa equipe de pesquisa, com metodologia
adequada à documentação e referenciais teóricos que nos permitem
aprofundar a questão, e não apenas descrevê-la, como era comum no caso
dos dedicados copistas medievais. Para superar a exclusão da vida
pública que sofreu o presidente Jango, faz-se mister o uso do
conhecimento, de uma sabedoria de porte. Temos como referência central
duas grandes obras do professor René Armand Dreifuss, denominadas “1964:
a conquista do Estado” e “O jogo da direita”. A investigação meticulosa
acerca do exílio do presidente João Goulart está debruçada sobre um
tripé de informações.