Luis Fabiano foi de aluno-problema a solução no ataque da seleção
Atacante tinha apelido inspirado em Biro-Biro e jogava em um campinho chamado de Buracanã. Jornal Nacional exibe série sobre convocados
Luis Fabiano não foi um aluno exemplar. Foi reprovado duas vezes. Era levado, só arrumava confusão na colégio. Adjetivos não faltavam na ficha escolar: indisciplinado, mal-educado, brigão... Fala palavrão, furou a fila da merenda, brigou e bateu no Belarmino! Coitado do Belarmino, Luis...
- Era um pequeno meio esquentado (risos). Não gostava de levar desaforo para casa. Sempre arrumava confusão. Dei muito trabalho, sim! Inclusive na escola. Faltava muito para jogar bola. Minha mãe sempre era chamada na escola (risos) - lembra o atacante, em entrevista ao repórter Tino Marcos, da TV Globo.
Menino levado e bom de bola, Luis Fabiano é o 16ª personagem da série de reportagens especiais do sobre os 23 convocados pelo técnico Dunga para a Copa do Mundo de 2010.
O atacante nasceu no dia 8 de novembro de 1980, em Campinas. Momento difícil na família Clemente. Sem marido, Sandra iria criar o filho sozinha. Mas o avô Benedito assumiu a responsabilidade de cuidar do neto. Não tinha luxo, não tinha muitas regalias. Mas nunca faltou nada em casa.
Sandra trabalhava em uma escola de crianças. O avô era aposentado. Luis Fabiano era uma criança difícil. Não gostava de estudar, era esquentado. Só queria saber de jogar futebol.
- Era dar uma laranja para ele, que colocava no chão e saía chutando. Ele era um garoto com o futebol na veia mesmo. Era só bola, bola. Era fácil dar presente a ele. Só dar uma bola que ele ficava feliz, que estava legal. Nada de videogame. Ele só queria jogar bola. Estudar era na marra mesmo. Era só futebol, futebol, futebol - lembra o tio Paulo.
- É uma praça no alto e o campo fica lá, lá em baixo. Então a gente chamava de “Buracanã”. Foi onde tudo começou. Onde a gente batia as peladas em qualquer hora. Era um tempo bom porque eu não fazia nada. Só jogava bola, não tinha responsabilidade, não queria saber de nada. Foram tempos bons, mas com certeza hoje é melhor (risos). Hoje é maravilhoso - disse o atacante da seleção brasileira.
Criança, Luis Fabiano já participava de jogos na várzea com equipes amadoras como Alvorecer e Arco-íris. Atuava em outra posição: era meia-direita. As partidas do artilheiro eram sempre acompanhadas de perto pelo avô Benedito, o maior incentivador. Foi ele quem conseguiu um teste em 1994 no Guarani. O artilheiro tinha 14 anos. Passou.
luis fabiano advertência (Foto:
Arquivo Pessoal)
Fora do Guarani, Luis Fabiano desanimou. Seu Ditão então arrumou um
trabalho para o neto em uma oficina de carros no bairro. O dono era um
velho amigo da família. Mas não deu muito certo. Era passar um garoto
pela rua e chamar para "uma bolinha", que o Fabuloso arrumava uma
desculpa, saia do trabalho e só voltava no fim do dia. Dois meses
depois, o avô de Luis Fabiano foi surpreendido certo dia na rua...- Passou um tempo e o meu pai cruzou com esse amigo na rua. Ele deu um tapa nas costas dele e falou “Ditão, vou dar um conselho para você. Você é muito meu amigo, legal, seu neto é gente boa, mas deixa o moleque jogar bola porque, para trabalhar... pode esquecer” - lembra o tio Paulo.
. Luis Fabiano passou no teste e, um ano depois, transferiu-se para a Ponte Preta, realizando um sonho antigo do seu avô que era torcedor fanático do clube.
- Quando eu cheguei na Ponte Preta me colocaram como centroavante. Falaram que eu tinha mais o biótipo. Alto, forte. E na Ponte Preta que comecei a fazer muitos gols. E aí falei: “é aqui o meu lugar”. Achei o meu lugar.
Luis Fabiano na Ponte Preta (Foto:
Arquivo Pessoal)
Seu Ditão faleceu em setembro de 2000. Não chegou a ver o neto vestir a
camisa da seleção brasileira. Mas teve a alegria de torcer por ele na
Ponte Preta e de fazer uma viagem até a França.- Ele sempre esteve ao meu lado, me apoiando, nos momentos difíceis. Ele era o meu fã número 1, andava com os recordes de jornal no bolso.
A fase mais difícil da vida de Luis Fabiano foi em 2004. A mãe do atacante foi sequestrada em Campinas. Foram dois meses de poucas informações e muita apreensão.
Aniversário em família (Foto: Arquivo
Pessoal)
- Foi um momento muito difícil onde eu estava no Porto tentando
encontrar a minha melhor forma, o meu melhor momento dentro do clube e
veio esta notícia ruim. Em um primeiro momento fiquei desesperado
querendo ir embora para o Brasil. Mas depois de muitas conversas (com
policiais) achei melhor ficar na Europa mesmo e continuar a minha
vida. Foi muito difícil, sem notícias, do outro lado do mundo. Meu tio
teve que sair do trabalho, minha família teve que mudar a rotina de
vida. Foi um momento muito difícil, mas deu tudo certo. Não aconteceu
nenhuma tragédia. Foram dois meses de muita angústia.Luis Fabiano disputou 36 partidas pela seleção brasileira e marcou 25 gols. Campeão da Copa América em 2004 e da Copa das Confederações em 2009, o atacante é o artilheiro da Era Dunga com 19 gols em 24 jogos. Ganhou até um rap embalado pela boa fase. A letra, o atacante sabe de cor: "Prazer, eu sou Luis Fabiano / Faço gol, meto gol e continuo lutando / Prazer, prazer, sou Luis Fabiano / Faço gol, meto gol e continuo lutando".