Atacada por Lula, procuradora já votou nele 3 vezes
No TSE, Sandra Cureau alvejou mais Serra do que Dilma
Lula Marques/Folha

Há duas décadas, grávida aos 42 anos, Sandra Cureau foi à Cinelândia, no Rio, para assistir a um comício do PT. Corria o
ano da primeira eleição presidencial pós-redemocratização. “Votei no
Lula em 89, no primeiro e no segundo turnos”, ela recorda.
Decorridos
21 anos, em comício realizado na mesma Cinelândia, Lula referiu-se à
ex-eleitora, hoje vice-procuradora-geral eleitoral, de maneira
depreciativa. Chamou-a de “uma procuradora qualquer”. Sem mencionar-lhe o nome, disse que ela tenta retirá-lo da campanha de Dilma Rousseff.
O voto de 89 não foi o único que a doutora, hoje com 63 anos, entregou a Lula. “Votei nele de novo em 94 ou 98, não me lembro. Num ano votei no Lula e, no outro, no Fernando Henrique. Em 2002, votei no Lula de novo”.
E quanto a 2006? “Não votei, estava trabalhando nas eleições como procuradora eleitoral”.
Sandra
Cureau recebeu em seu gabinete os repórteres Eliane Cantanhêde, Valdo
Cruz e Felipe Seligman. A conversa foi levada às páginas da Folha.
Nas
pegadas do lero-lero palanqueiro de Lula, o PT passou a esgrimir a
ameaça de representar contra Sandra no Conselho do Ministério Público. O
partido abespinhou-se porque a procuradora enxergou “abuso de poder”
nas menções que Lula fez a Dilma em duas solenidades oficiais.
A
transgressão pode render a Lula um novo pedido de multa no TSE. “Estou
esperando a gravação”, diz Sandra. “Não basta apenas notícia de
jornal”. E quanto à acusação de partidarismo feita pelo PT? Sandra responde com outra indagação: “Eles não fazem as contas?”
A repórter Mariângela Gallucci fez, por dever funcional, as contas que o petismo se absteve de fazer. Ela foi aos arquivos do TSE. Desobriu que, tomada pelas ações que levou ao tribunal, Sandra Cureau implica mais com o tucanato do que com o petismo.
Contra José Serra e o PSDB, a procuradora já ajuizou 16 representações. Contra o PT e Dilma Rousseff, apenas 12. Os números convertem a suspeita de “perseguição” em balela. E a ameaça de retaliação do PT em burrice.
Sandra diz não ter ficado aborrecida com a qualificação de “procuradora qualquer”. Recorda que Lula não citou o seu nome. Concorda
que, por dedução, pode-se concluir que era ela o alvo da referência.
Mas faz uma concessão à dúvida: “Seria desonesto dizer que me deu uma
cacetada”.
“O
que me incomodou foi uma visão meio depreciativa do Ministério Público.
Não sou nada, as pessoas podem achar de mim o que quiserem, mas a
instituição...”
Há o
risco de impugnação de alguma candidatura presidencial? “As multas
aplicadas até aqui, sozinhas, não são capazes de impugnar”, diz Sandra. “Não houve até aqui situações que possam caracterizar desequilíbrio das eleições...”
“...Teria de ter um ato que fizesse uma candidatura subir astronomicamente nas pesquisas. Isso não aconteceu. Quanto mais importante o cargo, mais cuidadoso você tem de ser, para não cair no golpismo”.
Como assim? “Golpismo no sentido de alguém fazer uma artimanha para afastar
o outro da eleição, pegar um ato apenas. Por isso tem de ser algo que
desequilibre as eleições para levar a uma impugnação”. Ela acha que as
multas previstas em lei eleitoral (no máximo R$ 25 mil) "são muito
baixas".