PAULO MELO CORUJA NEWS
Carvalho trabalha numa empresa portuguesa que tem escritórios em Trípoli e em Benghazi e no ano passado já tinha ficado 5 meses no país. Depois das férias de fim de ano, voltou à Líbia no dia 20 de janeiro.
"Já estávamos sem internet há três dias. Durante o dia a situação ainda era menos tensa, mas à noite ouvíamos muitos tiros", disse.
Ele consegiu remarcar sua passagem de volta ao Brasil pela companhia aérea alemã Lufthansa e retornou fazendo escala em Frankfurt.
O brasileiro disse ter visto helicópteros militares sobrevoando a capital líbia, mas não presenciou e nem ouviu confirmações de que eles tivessem bombardeado a cidade.
Já seus colegas em Benghazi confirmaram por telefone que a cidade portuária foi alvo de bombas lançadas por jatos militares das Forças Armadas líbias.
INCÊNDIOS
Carvalho destacou ainda que os prédios do governo estão sendo queimados e destruídos sistematicamente em todo o país, mesmo com a dura repressão. "Diversos escritórios oficiais foram incendiados nos últimos dias. Uma delegacia a 600 metros da minha casa estava em chamas quando saímos".
Momentos após um boato de que Gaddafi teria fugido para a Venezuela muitos fogos de artifício foram ouvidos por toda a cidade e gritos de comemoração, disse o brasileiro.
Ele disse ainda que no caminho para o aeroporto de Trípoli, na noite de ontem (21), passou em frente ao palácio presidencial do ditador Muammar Gaddafi, e que viu muitos manifestantes no local.
"Levei uma hora e meia só para conseguir entrar no aeroporto. A Líbia tem muitos estrangeiros. Chineses, asiáticos, espanhóis, brasileiros. Todo mundo está querendo sair o mais rápido possível e o aeroporto não comporta todo esse fluxo", disse à Folha por telefone.
MINISTRO RENUNCIA
Mais cedo o "número dois" do regime líbio, o ministro do Interior e general Abdul Fatah Younis, apresentou sua renúncia e exortou o Exército da Líbia a juntar-se aos manifestantes e defender suas "demandas legítimas" que apontam para a renúncia do ditador Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder, diz a emissora árabe Al Jazeera, com base no Qatar.
As declarações chegam pouco após a comunidade internacional soar alertas de que a situação na Líbia se deteriora cada vez mais.
Sete dias após o início dos intensos protestos e a escalada do massacre orquestrado pelo governo líbio, que enviou mais helicópteros e jatos de guerra para atirar contra os civis, o caos toma conta da Líbia nas ruas da capital Trípoli, de Benghazi e outras cidades, e diversos países fazem operações de emergência para retirar seus cidadãos do país.
Os alertas da deterioração incluem o discurso do ditador Muammar Gaddafi, no qual afirma que "morrerá como mártir" no país e os relatos de que centenas já tentam fugir para países vizinhos, o que pode acarretar numa crise de refugiados.
Centenas de pessoas já tentam fugir do país e chegar ao Egito. A agência de refugiados da ONU (Organização das Nações Unidas) pediu aos vizinhos da Líbia para que não recusem os que estão fugindo da violência. Centenas de refugiados chegaram ao Egito em tratores e caminhões descrevendo uma onda de mortes e bandidagem provocada pela revolta. Relatos indicam que manifestantes da oposição assumiram o controle da fronteira líbia com o país nas últimas 12 ou 24 horas.
A Human Rights Watch (HRW) diz que mais de 233 pessoas já morreram na Líbia e a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), estima entre 300 e 400 mortos. Não há números oficiais confiáveis e analistas indicam que o total de vítimas deve ser maior do que as estimativas das ONGs.
O Conselho de Segurança da ONU se reuniu por mais de uma hora para discutir o assunto a pedido do representante permanente adjunto da Líbia e anunciou uma sessão de emergência em aberto a partir das 17h de Brasília para obter o parecer de cada país-membro. Há indícios de que as Nações Unidas possam emitir sanções ao regime líbio.
O Brasil está atualmente na presidência rotativa do órgão, representado pela embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti.
MUNDO FECHA O CERCO A GADDAFI
Ainda em reação ao seu pronunciamento e às agressões de Gaddafi à população, o próprio organismo dos países da região, a Liga Árabe, reuniu-se emergencialmente em sua sede no Cairo e anunciou que a Líbia será excluída temporariamente das sessões do bloco.
Segundo um comunicado oficial, "está suspensa a participação das delegações governamentais da Líbia nas reuniões do Conselho da Liga Árabe e de todas as suas organizações dependentes até que as autoridades líbias cumpram os requerimentos" do bloco.
A chanceler (premiê) da Alemanha, Angela Merkel, considerou "muito assustador" o discurso e exigiu, ao mesmo tempo, das autoridades líbias, "o fim da violência contra o próprio povo", acrescentando que, "se isto não for o caso, a Alemanha passará a refletir sobre a imposição de sanções" a Trípoli.
Mais cedo o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu ajuda aos países árabes para chegar a uma solução na crise líbia antes que o massacre dos civis se solidifique no país. Ele analisou a situação na Líbia e no Iêmen com o emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al Thani.
Brasileiro que escapou de Trípoli relata violência na Líbia
JEFFERSON PUFF
DE SÃO PAULO
Após retornar ao Brasil com segurança nesta terça-feira, o mineiro Felipe Carvalho, que escapou de Trípoli na noite de ontem (21), relatou à Folha ter presenciado a escalada de violência na Líbia nos últimos três dias, até que a situação ficasse "insustentável" na capital. DE SÃO PAULO
Carvalho trabalha numa empresa portuguesa que tem escritórios em Trípoli e em Benghazi e no ano passado já tinha ficado 5 meses no país. Depois das férias de fim de ano, voltou à Líbia no dia 20 de janeiro.
"Já estávamos sem internet há três dias. Durante o dia a situação ainda era menos tensa, mas à noite ouvíamos muitos tiros", disse.
Ele consegiu remarcar sua passagem de volta ao Brasil pela companhia aérea alemã Lufthansa e retornou fazendo escala em Frankfurt.
O brasileiro disse ter visto helicópteros militares sobrevoando a capital líbia, mas não presenciou e nem ouviu confirmações de que eles tivessem bombardeado a cidade.
Já seus colegas em Benghazi confirmaram por telefone que a cidade portuária foi alvo de bombas lançadas por jatos militares das Forças Armadas líbias.
INCÊNDIOS
Carvalho destacou ainda que os prédios do governo estão sendo queimados e destruídos sistematicamente em todo o país, mesmo com a dura repressão. "Diversos escritórios oficiais foram incendiados nos últimos dias. Uma delegacia a 600 metros da minha casa estava em chamas quando saímos".
Momentos após um boato de que Gaddafi teria fugido para a Venezuela muitos fogos de artifício foram ouvidos por toda a cidade e gritos de comemoração, disse o brasileiro.
Ele disse ainda que no caminho para o aeroporto de Trípoli, na noite de ontem (21), passou em frente ao palácio presidencial do ditador Muammar Gaddafi, e que viu muitos manifestantes no local.
"Levei uma hora e meia só para conseguir entrar no aeroporto. A Líbia tem muitos estrangeiros. Chineses, asiáticos, espanhóis, brasileiros. Todo mundo está querendo sair o mais rápido possível e o aeroporto não comporta todo esse fluxo", disse à Folha por telefone.
MINISTRO RENUNCIA
Mais cedo o "número dois" do regime líbio, o ministro do Interior e general Abdul Fatah Younis, apresentou sua renúncia e exortou o Exército da Líbia a juntar-se aos manifestantes e defender suas "demandas legítimas" que apontam para a renúncia do ditador Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder, diz a emissora árabe Al Jazeera, com base no Qatar.
As declarações chegam pouco após a comunidade internacional soar alertas de que a situação na Líbia se deteriora cada vez mais.
Sete dias após o início dos intensos protestos e a escalada do massacre orquestrado pelo governo líbio, que enviou mais helicópteros e jatos de guerra para atirar contra os civis, o caos toma conta da Líbia nas ruas da capital Trípoli, de Benghazi e outras cidades, e diversos países fazem operações de emergência para retirar seus cidadãos do país.
Os alertas da deterioração incluem o discurso do ditador Muammar Gaddafi, no qual afirma que "morrerá como mártir" no país e os relatos de que centenas já tentam fugir para países vizinhos, o que pode acarretar numa crise de refugiados.
Asmaa Waguih/Reuters | ||
Manifestante mostra cápsula de morteiro (bomba) lançado contra a região de Tobruk por tropas leais ao regime |
A Human Rights Watch (HRW) diz que mais de 233 pessoas já morreram na Líbia e a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), estima entre 300 e 400 mortos. Não há números oficiais confiáveis e analistas indicam que o total de vítimas deve ser maior do que as estimativas das ONGs.
Hussein Malla/AP | ||
Exército do Egito monta hospital de campanha na fronteira com a Líbia; mais de 5.000 egípcios já retornaram |
O Brasil está atualmente na presidência rotativa do órgão, representado pela embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti.
MUNDO FECHA O CERCO A GADDAFI
Ainda em reação ao seu pronunciamento e às agressões de Gaddafi à população, o próprio organismo dos países da região, a Liga Árabe, reuniu-se emergencialmente em sua sede no Cairo e anunciou que a Líbia será excluída temporariamente das sessões do bloco.
Segundo um comunicado oficial, "está suspensa a participação das delegações governamentais da Líbia nas reuniões do Conselho da Liga Árabe e de todas as suas organizações dependentes até que as autoridades líbias cumpram os requerimentos" do bloco.
Asmaa Waguih/Reuters | ||
Manifestantes protestam em Tobruk, cidade que segundo o Exército líbio já está sob controle dos opositores |
Mais cedo o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu ajuda aos países árabes para chegar a uma solução na crise líbia antes que o massacre dos civis se solidifique no país. Ele analisou a situação na Líbia e no Iêmen com o emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al Thani.