QUANDO PRESO O GORDO DA MADRUGADA ABRIU A CAIXA PRETA DA SOCIEDADE PONTA-GROSSENSE

PAULO MELO CORUJA NEWS
JM

Na íntegra: "Gordo da Madrugada" abre a caixa-preta sociedade ponta-grossense

O que existe para mim é a família. Quem está me apoiando é a minha família. Amigos, agora, não existem

Em Ponta Grossa, apresentador de TV local é preso com 1Kg de cocaína

Preso na tarde de 31 de agosto quando deixava as instalações de uma emissora de TV a cabo para fazer entrevistas para o programa Pegando Pesado, e autuado em flagrante pela Polícia Civil acusado de vender cocaína em Ponta Grossa, Marcelo Ciuneck, 42, o “Gordo da Madrugada”, aguarda julgamento no Presídio Hildebrando de Souza.

Um dia antes de chegar algemado na delegacia, Ciuneck apareceu nas páginas sociais de jornais, num grande evento, ao lado de amigos. Hoje ele reclama do abandono. “Não existem amigos. O que existe para mim é a família. Quem está me apoiando é a minha família. Amigos, agora, não existem”. Em entrevista exclusiva ao JM, o “Gordo da Madrugada” abriu a “caixa-preta” da sociedade. Entre outras revelações, afirma que “tinha concorrente na própria imprensa”. Veja os principais trechos
JORNAL DA MANHÃ – Um dia antes de você ser preso, sua foto apareceu estampada nas colunas sociais dos jornais, num evento de glamour. Era essa vida que você almejava? Esse “status” na sociedade te massageava o ego?

MARCELO CIUNECK - O que eu posso sentir hoje é que foi tudo uma mentira. A sociedade é uma mentira, você conhece pessoas falsas. Eu acho que, resumindo tudo, para mim a sociedade é uma podridão. Eu enganei-me, deixe-me iludir. Hoje eu estou pagando pelo o que fiz. Aliás, pelo o que eu tentei fazer. Porque havia aquela ilusão de você subir de repente (ascensão social). Eu não traficava há anos, como falaram. Era pouco tempo. Foi uma ilusão; foi uma ganância. Não existem amigos. O que existe para mim é a família. Quem está me apoiando é a minha família. Amigos, agora, não existem.
JM – Você entrou no tráfico com a expectativa de obter riquezas, almejando o poder e status?
Ciuneck - É uma ilusão, achando que assim, de uma hora para outra, iria só fazer um pouco (tráfico) para dar uma vida melhor (à família). Mas você se engana, porque eu deixe-me levar pela ganância. Quando você está na sociedade (alta), quando você está naquele auge, você tenta se igualar para manter um status. Mas é tudo é um engano; é uma mentira. Na própria sociedade você sabe que tem gente que está ali e só tem nome.
JM – Pode-se afirmar que você saiu do “céu” e partiu direto para o “inferno”. Qual a lição que você tira dessa reviravolta?
Ciuneck - É só você levando para você aprender. O tombo foi grande. Para mim, eu levar esse castigo sozinho, eu ter que pagar sozinho, tudo bem, mas daí você cai na real que quem está sofrendo mais é a família. Eu estou sofrendo. Eu vou pagar. Eu estou pagando e pode ter certeza que aqui para este lugar (cadeia), pela droga, eu não volto mais. Foi uma ilusão.
JM – A opção em entrar para o rede do tráfico teve algum fato motivador? Quem te influenciou?
Ciuneck - Entrei no tráfico por ter sido influenciado por pessoas da alta sociedade. A sociedade tem um pano que encobre muita coisa. Você conhece muita coisa. Sinceramente, se desse para mostrar a realidade disso aí o povo iria saber a verdadeira realidade da sociedade.
JM – No senso comum propaga-se que o bandidão está infiltrado na favela, nas camadas mais pobres. Essa “roda de amigos” você freqüentava antes de ser preso só tinha “santo”?
Ciuneck - Existem bandidos. Não é porque está nesse meio que vai achar que é santo. Não adianta só falar que tem na classe média, ou entre os pobres. O principal bandido está nessa parte da sociedade (alta classe).
JM – No tráfico a concorrência é muito grande. A polícia estima que existe uma boca-de-fumo em cada quadra. Você desconfia que foi um concorrente que o denunciou?
Ciuneck - Lógico que existem pessoas que puxaram o meu tapete. Até no meio da imprensa. E todo mundo sabe de quem eu me refiro. Falava muito de mim, queria me derrubar, por não aceitar concorrente. Eu não vou dizer traficante, mas tipo assim não aceitava concorrência na imprensa. Não aceitava concorrência. Mas tudo bem a consciência é de cada um.
JM – Você sempre participava dos grandes eventos, era bajulado e até referenciado. Agora você vive uma realidade totalmente adversa. Como tem sido a tua vida aqui na cadeia?
Ciuneck - Não vou te falar detalhes, mas é uma escola (a cadeia) onde você aprende a viver de novo. Eu acho que se a pessoa cometeu um erro, se voltar a cometer esse erro de novo, a pessoa é burra, não tem o significado do valor da liberdade e da própria vida. Eu nunca tive nada que desabonasse a minha conduta. Foi a primeira vez e será a última. O pouco tempo que eu estou aqui eu já aprendi muito. Eu acordei para vida. O que aconteceu é que eu me desliguei um pouco da minha família, me distanciei de Deus. Eu acho que foi isso. Eu tomei outro caminho, um caminho errado...
JM - Você enriqueceu com o tráfico?
Ciuneck - Claro que não. O tráfico é uma ilusão. Esses bens que eu tinha (carro e barco) não era do tráfico. O carro é financiado e é barco com motor, não uma lancha. Eu não tenho residência própria, é alugada. Entrar no tráfico foi uma experiência, achei que ia me levantar, foi pura ilusão.
JM - Que recado você deixa para quem quer entrar nessa vida.
Ciuneck - Que fuja. É pura ilusão. Pode até ganhar muito dinheiro, mas a queda acontece de uma hora para outra. A droga que está levando mais para este caminho (da violência) é o crack, principalmente para morte. Aqui (na cadeia) conheci muita gente que lidava com o crack e se perdeu completamente. Para mim não vai ser fácil começar uma nova vida. Eu só quero sair daqui com a minha família e tocar a minha vida de novo.
JM - Até duas ou três semanas atrás talvez você nem pensasse que a droga que estava vendendo poderia destruir muitas famílias. Em situação adversa, que recado você deixa aos pais?
Ciuneck - Para que deem mais atenção aos seus filhos, vejam com quem eles estão se envolvendo e onde estão indo. Eu estou falando da noite ponta-grossense. Para cuidar mais, porque cada dia que passa a droga está em todo lugar. Em Ponta Grossa à noite está muito perigosa, principalmente nas baladas.