"A SENHORA PRECISA VOLTAR A ESTUDAR", DIZ ADVOGADA DE LINDEMBERGER Á JUÍZA DO CASO ELOÁ

PAULO MELO CORUJA NEWS

"A senhora precisa voltar a estudar", diz advogada de Lindemberg à juíza do caso Eloá
 

Débora Melo
Do UOL, em Santo André (SP)
    A advogada de defesa de Lindemberg Alves, Ana Lúcia Assad, voltou a causar polêmica durante o julgamento de seu cliente, que está respondendo a processo por ter mantido em cárcere privado sua ex-namorada Eloá Pimentel em outubro de 2008 --o caso terminou com a morte da vítima.
    Após encerrar suas questões para a perita da Polícia Civil Dairse Aparecida Pereira Lopes, uma das testemunha de defesa ouvidas nesta terça-feira (14) --segundo dia do julgamento--, Assad pediu a juíza do caso para fazer mais algumas perguntas, o que foi indeferido pela magistrada.
    Foto 77 de 78 - 14.fev.2012 - Após ser vaiada, a advogada de defesa de Lindemberg Alves, Ana Lúcia Assad, deixa o Fórum de Santo André escoltada e dentro de um carro da polícia para o horário de almoço Mais Leandro Moraes/UOL
    “Em nome do princípio da verdade real, eu quero ouvir a testemunha de novo”, alegou a defensora. “Esse princípio não existe ou não tem esse nome”, retrucou a juíza Milena Dias. “Então a senhora precisa voltar a estudar”, disse a advogada.
    Antes que a juíza pudesse responder a ofensa, a promotora Daniela Hashimoto interveio e disse que Assad poderia responder por desacato se fizesse comentários como esse. Ao fim, a magistrada permitiu que as novas questões fossem feitas.
    Assad questionava a perita sobre um erro na numeração das armas que constavam no laudo. De acordo com Lopes, a troca de números de fato ocorreu, mas o erro já havia sido retificado.
      em tom de brincadeira: "A senhora quer que eu chore, pois eu choro". A defensora entregou, então, um lenço de papel a ele, ao que retrucou: "Preferia um de seda".

    Depoimentos

    Após os depoimentos das testemunhas, o réu será interrogado –Lindemberg, que até agora se recusou a falar, poderá permanecer calado, mas sua advogada, Ana Lucia Assad, já adiantou que ele vai falar sobre o caso e "expor sua versão". Depois dessa etapa, os debates são abertos, com uma hora e meia para a acusação e uma hora e meia para a defesa, além da réplica e da tréplica.
    Nesta terça-feira (14), falaram os dois irmãos de Eloá. O mais velho, que se emocionou durante seu depoimento, chegou a chamar Lindemberg de monstro e disse que não aprovava o namoro da irmã, mas aceitava porque Eloá gostava muito do réu.
    O irmão mais novo confirmou que, “infelizmente”, era muito amigo de Lindemberg e que jogava bola com ele todo o fim de semana, já que todos moravam no mesmo conjunto habitacional.
    Sobre o sentimento que nutre atualmente pelo réu, a testemunha disse: “No começo eu sentia muita raiva, muita mágoa. Agora só sinto pena. É um ser insignificante para mim. Ele não pode ser considerado ser humano”.
    O primeiro dia de julgamento durou pouco mais de nove horas e foi encerrado às 20h de segunda-feira (13). As quatro testemunhas que prestaram depoimento confirmaram que Lindemberg fazia ameaças de morte durante o cárcere privado. O testemunho mais esperado do dia era o da amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, que foi feita refém junto com a jovem. Nayara pediu que Lindemberg fosse retirado da sala enquanto ela falasse.
    A jovem, que foi ferida por um tiro no rosto quando a polícia invadiu o local, disse que o réu agrediu Eloá durante o período de cativeiro e que a vítima dizia o tempo todo que “sabia que ia morrer”. Nayara afirmou que ouviu três disparos antes da entrada da polícia no apartamento –o que comprova a tese da acusação, de que os tiros partiram do réu e não da polícia.
    A amiga de Eloá também falou sobre o comportamento do ex-namorado da vítima. “Lindemberg passou a perseguir a Eloá depois que eles terminaram o namoro”, completou. Segundo a jovem, ele a considerava uma má influência para a vítima. "Ele tinha raiva de mim e da minha mãe porque a Eloá andava dormindo lá em casa e a gente saia bastante. Ele dizia que eu a influenciava diretamente."
    Já sobre o comportamento do réu durante o cárcere, ela afirmou que Lindemberg dava risada e se vangloriava pela repercussão do caso na mídia. "Na televisão só passava isso [relatos do caso]", disse Nayara.
    Outros dois amigos de Eloá, que também foram mantidos reféns, afirmaram que Lindemberg os ameaçava de morte. "Ele dizia que ia fazer uma besteira", disse Victor Lopes de Campos respondendo às perguntas da promotora Daniela Hashimoto. Já Iago Oliveira afirmou que "ele ameaçava a Eloá a toda hora, e dizia que ela não ia sair viva de lá: ou ele ia matar todo mundo e se matar, ou matar a Eloá e se matar".
    O sargento Atos Antonio Valeriano, policial militar que iniciou o trabalho de negociação com Lindemberg, disse que o jovem estava nervoso e dizia que “ia matar os quatro” e depois ameaçava também se matar.
    • Julia Chequer/Folhapress Ana Cristina Pimentel mostra a foto da filha Eloá

      Entenda o caso

      Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu o apartamento de sua ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15, no segundo andar de um conjunto habitacional na periferia de Santo André, na Grande São Paulo, no dia 13 de outubro de 2008. Armado, ele fez reféns a ex-namorada e outros três amigos dela, que estavam reunidos para fazer um trabalho da escola.
      Em mais de cem horas de tensão, Lindemberg chegou a libertar todos os amigos, mas Nayara Rodrigues acabou voltando ao cativeiro, no ponto mais polêmico da tragédia --a polícia, que trabalhava nas negociações, foi bastante criticada por ter permitido o retorno.
      Em depoimento, Nayara afirmou que, após ter sido liberada, foi procurada por policiais que queriam que ela tentasse convencer Lindemberg a libertar Eloá pelo telefone. Então ela os acompanhou até o local do sequestro e foi orientada pelo rapaz ao celular a subir as escadas. Nayara disse que Lindemberg prometeu que os três desceriam juntos, mas, quando chegou à porta, viu que ele estava com a arma apontada para a cabeça de Eloá. Então, ele puxou Nayara para dentro do apartamento e não a libertou mais.
      Mais tarde, policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) invadiram o apartamento, afirmando que ouviram um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos tiros. Dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois. Lindemberg foi preso.
      O réu é acusado de cometer 12 crimes, entre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, tentativa de homicídio (contra Nayara Rodrigues e contra o sargento Atos Valeriano), cárcere privado e disparos de arma de fogo. Se for condenado por todos os crimes, a pena, somada, pode ser superior a cem
      1º Dia - testemunhas relatam ameaças feitas por Lindemberg No primeiro dia de julgamento, quatro testemunhas prestaram depoimentos