REUTERS/Ueslei Marcelino
O senador boliviano Roger Pinto Molina acena em frente à casa do advogado Fernando Tiburcio, em Brasília
Patriota deixa governo após episódio com senador boliviano
Ele será substituído por Luiz Alberto
Figueiredo. O ministro das Relações Exteriores já vinha enfrentando uma
série de desgastes com a presidente Dilma
gazeta do povo, com agências
Desgastado com a operação de "resgate" do senador boliviano Roger
Pinto que provocou uma crise diplomática com a Bolívia, o ministro das
Relações Exteriores, Antonio Patriota, foi obrigado nesta segunda-feira
(26) a pedir demissão. A conversa entre a presidente e o ministro foi
rápida, no Palácio do Planalto.
Patriota já vinha enfrentando uma série de desgastes com a presidente e
o episódio envolvendo o encarregado de negócios da embaixada brasileira
na Bolívia foi considerado uma quebra de hierarquia, e, principalmente,
uma quebra do princípio internacional do asilo. Um auxiliar da
presidente disse que isso é inaceitável e não há como o comandante, no
caso Patriota, deixar de responder pela operação. A saída de Patriota,
com quem Dilma já se desgastara, precipita a reforma ministerial
programada para o fim do ano.
A irritação da presidente Dilma era maior porque a quebra da
hierarquia do embaixador interino do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia,
subordinado de Antonio Patriota, não se resumia à operação da madrugada
de domingo, 25. Há seis meses, o governo da Bolívia havia feito proposta
ao governo brasileiro de que senador boliviano fosse levado de carro
até a fronteira com o Brasil e deixado lá, "sem que fosse de
conhecimento" do governo local. O senador teria de percorrer 1600 km,
durante 22 horas, de carro, até chegar à fronteira brasileira tornando a
sua liberdade um fato consumado.
Ao tomar conhecimento desta proposta, a presidente Dilma disse que não
concordava. Na época, a presidente Dilma reagiu avisando que, se
acontecesse alguma coisa com o senador, neste longo trajeto, um
acidente, ou qualquer coisa, o governo brasileiro seria responsável, já
que era o Estado brasileiro era o guardião da sua segurança e da sua
vida. Dilma insistiu que a vida do senador não poderia ser colocada em
risco.
Portanto, reiterava Dilma, havia uma clara determinação da presidente
da República de que não fosse feito o trajeto de carro com o senador,
por causa do risco e da responsabilidade e, apesar da ordem dada, o
embaixador interino do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia, a desafiou e
montou a operação de fuga de Roger Pinto. Para Dilma, ao decidir pela
operação, Eduardo Saboia assumiu o risco e deve responder por isso.
Dilma já havia conversado com Patriota e determinado que ele
cancelasse sua viagem à Finlândia e permanecesse no Brasil para resolver
este problema. A presidente estava "inconformada" com o episódio e com a
quebra de hierarquia e queria saber exatamente quem sabia da operação
idealizada por Saboia. Por isso, convocou no início da tarde desta
segunda ao Planalto, os ministros da Defesa, Celso Amorim, a quem
estavam subordinados os fuzileiros que fizeram a segurança do senador
boliviano e às Forças Armadas e da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem
a Polícia Federal está subordinada. Queria saber se eles sabiam da
operação.
Eduardo Saboia será submetido a um processo administrativo e deverá
ser "severamente" punido, segundo fontes do Palácio, pelo que a
presidente Dilma está chamando de "grave quebra de hierarquia". O
Ministério das Relações Exteriores (MRE), Itamaraty, decidiu instaurar
uma comissão de sindicância para apurar responsabilidades sobre a
retirada do senador boliviano. A comissão será formada por três pessoas
que serão nomeadas pelo ministério.
Durante a tarde desta segunda-feira (26), o senador, que está abrigado
na casa do advogado Fernando Tiburcio, em Brasília, apareceu na porta
da residência e posou para fotógrafos que estão fazendo plantão no
local. Ele se recusou a responder perguntas sobre seus planos de agora
em diante e limitou-se a dizer que ama o Brasil. Seu advogado disse que
não há risco de o senador ser deportado ou extraditado. E comparou seu
status ao do ativista Julian Assange, no Equador, e do ex-técnico da CIA
Edward Snowden, na Rússia. "Só (será extraditado) se acontecer uma
coisa heterodoxa, que acho que não tem o menor sentido", disse Tiburcio.
"Ele é um asilado político. Foi concedido asilo a ele."
Mais cedo, o governo boliviano acusou o Brasil de descumprir normas de
direito internacional na forma como recebeu o senador e exigiu à
representação brasileira explicações oficiais sobre o caso. Ele estava
asilado havia mais de um ano, alegando perseguição política do governo
de Evo Morales.
Mas, de acordo com o blog "Panorama Político", há sete meses os
ministério da Justiça e das Relações Exteriores do Brasil negociam com a
Bolívia a concessão e um asilo para o senador. Segundo integrantes
qualificados do governo Dilma, foram as autoridades do governo boliviano
que fizeram a sugestão informal para que Roger Pinto saísse da
embaixada, viajasse por terra ao Brasil, com a garantia de que ele não
seria barrado.
Senador diz que "houve negligência" no caso do boliviano
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo
Ferraço (PMDB-ES), considerou nesta segunda-feira que houve negligência
por parte do Itamaraty em relação à situação do senador boliviano Roger
Pinto.
As declarações do senador foram feitas ao Broadcast Político, serviço
de notícias em tempo real da Agência Estado, ao ser questionado como
avaliava a demissão do Ministro de Relações Exteriores, Antônio
Patriota, ocorrida na noite desta segunda-feira, 26, horas depois da
fuga do senador boliviano para o Brasil.
"Não sei quais foram as motivações que levaram a presidente Dilma a
exonerar o ministro. Mas houve negligência do Ministério de Relações
Exteriores de conseguir uma solução adequada para o episódio que pode
ter gerado essa crise', afirmou o senador.
Segundo Ferraço, o encarregado de negócios da embaixada brasileira em
La Paz, Eduardo Sabóia, que conduziu Roger Pinto ao Brasil, avisou
várias vezes os superiores sobre a condição "insustentável" do
parlamentar boliviano.
"O Sabóia me disse que tinha relatado a situação do senador boliviano
aos superiores, que ela estava insustentável, e que ele não iria
prevaricar. O contato foi feito pessoalmente em Brasília quando ele
esteve por duas vezes e por telefone também" afirmou Ferraço.
"Sabóia fez ajudou na fuga do boliviano pelo instinto de solidariedade
humana. Os seus superiores não tiveram a leitura adequada do processo",
acrescentou.
Ricardo Ferraço informou que vem negociando com o diplomata a
possibilidade de ele prestar esclarecimento na Comissão na próxima
quinta-feira. Nesta terça-feira, 27, está prevista uma coletiva de
imprensa em que o senador boliviano dará a sua versão para o episódio.
Quanto à possibilidade de o parlamentar do país vizinho ser deportado,
Ricardo Ferraço considerou a ideia como "o fim do mundo". "Se
acontecer, colocará em risco a vida do senador boliviano", concluiu.
Diplomata de carreira, novo chanceler destacou-se na Rio+20
Agência Brasil
O novo ministro das Relações Exteriores é o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado,
de 57 anos. Diplomata de carreira, Figueiredo Machado foi o
negociador-chefe da Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho do ano passado, no Rio
de Janeiro. Na ocasião, ele se destacou pela habilidade e conquistou a
confiança da presidente Dilma Rousseff pela disposição em negociar
pacientemente com os que resistiam a acordos na Rio+20.
De personalidade introspectiva, Figueiredo Machado é contido nas
palavras e é apontado como um estrategista. Acostumado a longas
negociações, o novo chanceler não costuma demonstrar cansaço, nem
impaciência. Ele e Dilma se conheceram na Conferência das Partes (COP),
na Dinamarca, quando a presidente ainda estava na Casa Civil.
Figueiredo Machado tem uma longa trajetória com negociações
multilaterais e bilaterais referentes não só às questões ambientais,
como também à área de energia. Na Rio+20, ele chamou a atenção pelo
bom-humor, mesmo diante de perguntas embaraçosas e repetitivas.
Após a Rio+20, Figueiredo Machado foi nomeado representante do Brasil
na Organização das Nações Unidas (ONU). A nomeação para a ONU é
considerada, entre os diplomatas, valorização do profissional, pois a
entidade é o principal órgão internacional de negociações multilaterais.
A ONU também obriga os representantes das delegações dos diversos
países a travar acordos bilaterais e específicos. Assuntos como paz,
segurança e meio ambiente são apenas alguns dos vários colocados em
debates constantes no órgão.
A sede em Nova York engloba a presidência da ONU, a Secretaria-Geral e
o Conselho de Segurança. Porém, há, ainda espaços de discussão e
definições em Viena (Áustria), Genebra (Suíça), Nairóbi (Quênia) e Haia
(Países Baixos).
A diplomacia brasileira costuma ser elogiada por se caracterizar pela
construção de consensos, pelo fim das polarizações e pela manutenção
constante de diálogos e acordos. Nos últimos anos, as questões relativas
à defesa de direitos humanos ganharam mais força para a delegação
brasileira, que ressalta a importância de preservação, manutenção e
defesa desses princípios.
Diplomata que trouxe senador boliviano ao Brasil é afastado
Folhapress
O Itamaray afastou hoje o diplomata Eduardo Saboia, pivô da crise que
derrubou o chanceler Antonio Patriota, das funções que exercia na
Embaixada do Brasil na Bolívia. Ele ficará afastado enquanto responde ao
inquérito aberto no órgão.
Saboia se reuniu hoje com o secretário geral do Itamaraty, Eduardo dos Santos e com o também embaixador Antonio Simões.
Saboia vai contratar advogados para se defender no inquérito.