'VEM ME BUSCAR', DISSE SOTERRADO A BOMBEIRO EM SALVAMENTO POR RÁDIO

PAULO MELO CORUJA NEWS

'Vem me buscar', disse soterrado a bombeiro em salvamento por rádio

Vítima soterrada telefonou para operário que estava do lado de fora.
Desabamento de prédio em São Mateus ocorreu na manhã desta terça.

Márcio Pinho Do G1 São Paulo
  O capitão Márcio César Carnevale afirma que usou um aparelho de rádio no resgate do operário Rubens Moreno, de 24 anos, um dos soterrados no desabamento na manhã desta terça-feira (27) em São Mateus, na Zona Leste de São Paulo.
Segundo o capitão, Rubens usou o próprio aparelho para chamar outro operário que estava do lado de fora da obra. Foi esse operário quem emprestou o aparelho para os bombeiros fazerem a busca. Anteriormente, o Corpo de Bombeiros informara que a vítima havia ligado para o 193.

Pelo rádio foi feita uma aproximação do local onde estava Rubens. Os bombeiros conversavam com ele e fizeram ruídos na estrutura desabada, enquanto Rubens informava pelo aparelho se estavam mais próximos ou mais distantes dele.
“Você está perto de mim, vem me buscar”, foram as frases que Rubens falou, segundo o capitão. Quando a equipe constatou o local aproximado, fez um som entre as duas lajes que desabaram. Rubens imediatamente respondeu: “eu estou aqui”.

“Nós rastejamos e tiramos o Rubens do buraco”, disse Carnevale.  Segundo ele, o operário estava bem e tinha apenas algumas escoriações no couro cabeludo. Segundo o capitão, não é raro o uso de telefone via aparelho de rádio em desabamentos. Ele admitiu, no entanto, que se trata de uma situação de “sorte”.

O capitão disse que a busca durou cerca de uma hora e que no final os bombeiros perceberam pela voz que Rubens estava ficando mais fraco e pediram para ele não desanimar.
Desabamento em São Mateus (Foto: Arte/G1)
Trabalhos de salvamento
O coronel do Corpo de Bombeiros Reginaldo Campos Retulho diz que os trabalhos devem continuar à noite em busca de cinco pessoas desaparecidas. "É uma corrida contra o tempo. Após as primeiras 24h diminuem as chances de as pessoas estarem vivas", afirmou. Retulho estima que os trabalhos podem durar até 3 dias. "Torcemos para que aquele número inicial de 35 vítimas não aumente", disse o coronel.
O pedreiro Antonio Alison estava no meio da obra, mas não comemorava por ter escapado com vida. Ele teve cortes na perna e nas costas, mas se negava a ir para o hospital porque procurava o irmão de 21 anos que estava na parte da frente. "Não vimos nada, foi um estrondo e tudo caindo. Não vou sair daqui enquanto não achar meu irmão", afirmou.
O desabamento total do imóvel de dois pavimentos aconteceu por volta das 8h30, na Avenida Mateo Bei, próximo à Avenida Maria Cursi. A estimativa é que cerca de 35 pessoas estivessem na obra de construção de uma loja da rede Torra Torra no momento do acidente.
De acordo com os bombeiros, os mortos estavam nos fundos do imóvel, enquanto a maioria dos sobreviventes estava no meio da construção, onde se formou um bolsão que permitiu que houvesse sobreviventes. Nesta área da construção foi resgatada um ferido que manteve contato com os bombeiros por celular. As pernas do operário ficaram presas nos escombros.
Irregularidades e multas
A construção era irregular e já foi multada em mais de R$ 100 mil, segundo a Prefeitura. Antes da construção, um posto de gasolina funcionava no local.
A empresa dona do imóvel, a Jamf Empreendimentos Agrícolas Ltda, não se pronunciou sobre o caso.
Segundo a Subprefeitura de São Mateus, antes do início da obra, um posto de gasolina funcionava no local.
Futura loja popular
Em nota, o Magazine Torra Torra informou que o imóvel não era de propriedade da rede. Segundo a empresa, havia um contrato de locação do prédio e a rede só assumiria o imóvel após finalizadas as obras estruturais pelo proprietário, a Jamf Empreendimentos Agrícolas Ltda, que não comentou o caso até as 12h20.
"O Magazine Torra Torra não tem nenhuma responsabilidade sobre a parte de engenharia civil. No momento, uma empresa de engenharia contratada pelo Magazine Torra Torra realizava uma avaliação sobre as condições de uso do prédio. Caso esse laudo técnico fosse positivo, atestando a segurança estrutural, a rede então faria o acabamento para abrigar mais uma unidade.  Ressalte-se que o Torra Torra somente entraria com a loja no local com esse aval técnico. Este é um cuidado que o Magazine Torra Torra toma em todas as lojas da rede, devidamente avaliadas quanto à segurança estrutural, de acordo com engenheiros, para receber nossos empreendimentos", informa o texto.
Os bombeiros chegaram a manter 130 homens no local, dois helicópteros e quatro cães de salvamento trabalhavam no resgate das vítimas.