JAPÃO AINDA CONTINUA O ALERTA DE ACIDENTE ATÔMICO...MILHARES FORAM RETIRADOS DA ÁREA DE RISCO

PAULO MELO CORUJA NEWS

Barras de combustível de reator ficam expostas no Japão

Exposição no reator 2 pode causar derretimento das barras, o que aumentaria risco de danos no reator e possível vazamento atômico

iG São Paulo
Barras de combustível em um reator nuclear japonês atingido pelo terremoto que devastou o país na sexta-feira ficaram expostas por dois momentos nesta segunda-feira, informou a operadora da usina no nordeste do Japão, a Tokyo Electric Power Co. (Tepco).
A informação se refere ao reator número 2 do complexo Fukushima Daiichi, onde os índices de água para resfriamento em volta do núcleo do reator baixaram após a explosão do reator 3 da usina, que destruiu o teto e as paredes da instalação. Segundo a agência Jiji, a possibilidade do derretimento das barras de combustível não poderia ser descartada, com a fusão parcial do núcleo de um dos reatores. O derretimento aumentaria o risco de danos ao reator e de um possível vazamento nuclear, dizem especialistas.
A estação de bombeamento que permite manter submersas as barras de combustível parou de funcionar, o que reduziu o nível de água no reator e manteve 3,7 metros das barras de combustível (que têm 4 metros) expostas ao até pelo menos às 20h07 desta segunda-feira (08h07 no horário de Brasília). As barras voltaram a ficar expostas posteriormente.

Explosão não danificou reator nuclear (14/03)
Foto: Reutes
Explosão não danificou reator nuclear (14/03)

Diante dessa situação, a empresa usou água do mar diretamente no reator para afundar as barras de combustível nuclear e conter o eventual processo de fusão. Apesar das informações, o porta-voz do governo japonês, Yukio Edano, descartou a possibilidade de uma grande explosão no reator.
O reator 2 é o terceiro da usina nuclear de Fukushima a sofrer uma pane no seu sistema de resfriamento. Problemas semelhantes causaram explosões em outros dois reatores, informou o operador da instalação. Mais cedo, a segunda explosão atingiu o reator número 3 de Fukushima, dois dias depois de um incidente semelhante envolvendo o reator número 1.
Segundo a agência de segurança nuclear do Japão, a explosão foi causada por um acúmulo de hidrogênio. O incidente deixou 11 feridos, um deles em estado grave. Mas as autoridades afirmaram que o reator número 3 resistiu ao impacto. O núcleo da estrutura teria permanecido intacto e os níveis de radiação, abaixo dos limites considerados legalmente perigosos.
Ainda assim, dezenas de milhares de pessoas foram retiradas das proximidades da instalação e 22 estão sob tratamento por exposição à radiação. O governo informou que o sistema de bombeamento de água do mar para os reatores permanece em operação apesar da última explosão.
No fim de semana, técnicos trabalharam para resfriar os três reatores da usina Fukushima 1, que tiveram problemas em seu sistema de resfriamento após o terremoto e o tsunami na sexta-feira.
O porta-voz do governo, Yukio Edano, afirmou que há baixa possibilidade de contaminação por radiação por conta da última explosão. Especialistas creem que é improvável uma repetição do desastre nuclear das proporções de Chernobyl, em 1986, porque os reatores atuais são construídos com padrões mais elevados e sob medidas de segurança mais rigorosas.
A crise nuclear no Japão não deve se tornar em outro Chernobyl, o pior acidente nuclear da história, disse o chefe da agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU). É "improvável que o incidente se desenvolva" como ocorreu em Chernobil, disse Yukiya Amano, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ele apontou para algumas diferenças, entre elas o projeto e a estrutura das usinas nucleares.
O presidente da Autoridade Francesa de Segurança Nuclear (ASN), André-Claude Lacoste, disse que o acidente de Fukushima alcançou um nível de gravidade maior do o de Three Mile Island, em 28 de março de 1979, mas não chegou ao nível de Chernobyl. "Temos a impressão de que estamos pelo menos em nível 5 ou nível 6 (de uma escala de 7)", indicou Lacoste à imprensa. "É algo além de Three Mile Island (nível 5) sem alcançar Chernobyl (nível 7). Estamos com toda certeza num nível intermediário, mas não se pode descartar que podemos chegar a um nível da catástrofe de Chernobyl", acrescentou.



Devastação
Uma gigantesca operação foi posta em marcha para resgatar os mortos e desaparecidos no desastre natural. A repórter da BBC Rachel Harvey, que está na cidade portuária de Minami Sanriku, disse que as águas avançaram cerca de 2 km terra adentro, devastando a paisagem com destroços.
A repórter disse que o cenário é de extrema devastação e é improvável que haja muitos sobreviventes. Até agora foram confirmados 1.833 mortos, mas o número final deve ser muito maior. A agência de notícia Kyodo News afirmou que foram encontrados cerca de 2 mil corpos na região administrativa de Miyagi nesta segunda-feira, mas os números não foram confirmados oficialmente.
Em Sendai, capital de Miyagi, a 300 km de Tóquio, as equipes de resgate também estão encontrando cenas de devastação. Réplicas do terremoto de sexta-feira estão sendo registradas na capital japonesa.
Crise
Mais cedo, o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, anunciou que o país passará a enfrentar cortes no fornecimento de energia. Depois, o governo decidiu adiar os cortes até ficar claro qual será a economia de energia nas residências.
As autoridades estão aconselhando os cidadãos a não ir para o trabalho nem levar seus filhos à escola, para evitar sobrecarregar a debilitada capacidade do sistema de transporte público. O premiê disse que o desastre mergulha o país "na crise mais grave desde a Segunda Guerra Mundial".
Estimativas preliminares elevam os custos de recuperação da tragédia em dezenas de bilhões de dólares - um forte golpe para o país, em um momento em que a economia mundial dá sinais de retomada. O governo afirmou que injetará 15 trilhões de ienes na economia japonesa (mais de US$ 180 bilhões) para dar um sinal positivo para o mercado financeiro, que abriu em queda nesta segunda-feira.
*Com BBC, Reuters, EFE e AFP