PAULO MELO CORUJA NEWS
O luto do Brasil de Bombachas
Muito mais do que para um torneio de bolão, os passageiros que estavam a bordo do ônibus de número 5.000 em viagem para Marechal Cândido Rondon e Pato Bragado, no oeste do Paraná, iam para um encontro familiar. Os laços que uniam essas pessoas dão dimensão maior à tragédia.
A maioria dos passageiros saiu da cidade gaúcha de Santo Cristo. Foi justamente de lá que partiu boa parte dos agricultores que povoaram várias cidades do oeste do Paraná e de Santa Catarina. Os migrantes saíram do Rio Grande do Sul e atravessaram o Rio Uruguai em busca de melhores dias para os seus familiares.
A região povoada pelos gaúchos é conhecida como Brasil de Bombachas, uma vasta e rica área que se estende por vários Estados. Os descendentes dos colonos que deixaram o RS e hoje vivem no oeste catarinense e paranaense são chamados de “gaúchos cansados”. Ganharam essa alcunha porque os pais migraram para a região onde eles nasceram e, depois do que é considerado uma pausa para descanso no processo de migração, as famílias seguiram em frente, colonizando outros lugares.
Na época da colonização, entre os anos 1970 e 1990, centenas de famílias usaram a BR-282 como caminho na busca dos seus sonhos. São Miguel do Oeste era parada obrigatória para o reabastecimento dos caminhões que transportavam a mudança dos migrantes. Hoje, além de ser um importante elo na malha rodoviária brasileira, a estrada, nesta época do ano, é muito usada por familiares do Brasil de Bombachas para visitar parentes e fazer confraternizações – como o torneio de bolão que reuniria as famílias de Santo Cristo, Marechal Cândido Rondon e Pato Bragado.
As viagens para visitas, claro, não irão parar. Mas as cruzes dos mortos da tragédia que serão erguidas à beira da BR-282 lembrarão que o perigo ronda a rodovia. É um dia de luto no Brasil de Bombachas.