UM CERTO CHEIRO DE FARSA
Por Carlos ChagasCom todo o respeito, mas trás um cheiro de farsa o projeto tucano de autoria do senador Tasso Jereissatti, aumentando o bolsa-família dos pais de alunos de 6 a 17 anos que tirarem boas notas. Primeiro porque ficará difícil estabelecer critérios em regiões diferenciadas, onde surgem escolas péssimas, escolas sofríveis e escolas regulares. Depois, porque numa família onde o pai está desempregado ficará mais difícil a um menino subalimentado concorrer com outro que faz três ou quatro refeições por dia.
Acresce ser a
proposta elitista, servindo para aumentar o desnível de renda familiar
em função de dotes concedidos diferencialmente à juventude, pela
natureza. Trata-se da filosofia conservadora e reacionária do
neoliberalismo, que prega a livre competição entre quantidades desiguais
como valor acima do direito de todos de receber do poder público o
necessário para sobreviver. É assim que as elites agem lá em cima,
estimulando em seus pimpolhos uma falsa concorrência no banquete
restrito à sua classe. Levar essa prática às camadas menos favorecidas
parece maldade mas é pior: significa uma nova forma de dividir os
pobres, jogando-os uns contra os outros e evitando uma inexorável união
futura.
O pior na
história é que o projeto Jereissatti surge na hora em que a candidatura
Dilma Rousseff cresce e ameaça o favoritismo de José Serra. Estivesse o
governador de São Paulo nos anteriores patamares e o Alto-Tucanato nem
pensaria nessa demagógica ampliação do bolsa-família. Permaneceria,
caso não se insurgisse, com o raciocínio de Serra a respeito
da manutenção das conquistas sociais estabelecidas pelo governo Lula.
Antes mesmo do que se esperava, caem as primeiras máscaras do andar de
cima.