TUDO UMA COISA SÓ?
Começa
a emergir do marasmo a estratégia de campanha de José Serra. Não
desejando e nem podendo contrapor-se às realizações do governo Lula no
plano social, o candidato procura reunir num só conjunto as
conquistas de todos os governos da Nova República, desde as promessas
de Tancredo Neves até as realizações de José Sarney, Fernando Collor,
Itamar Franco, Fernando Henrique e Luiz Inácio da Silva. Para muita
gente, trata-se de colocar no mesmo saco gatos, carangueijos, tartarugas
e bichos-preguiça. Sem esquecer que antes da Nova República o Brasil já
existia, com sucessos e fracassos.
Apesar das
ponderações, parece a única saída para o governador paulista tentar
neutralizar a ascensão da adversária e de seu patrono. Juntar todos os
governos desde 1985 obrigaria o Lula a reconhecer que não criou nada,
mas, apenas, continuou a obra dos antecessores. Sabe-se não ter sido
bem assim, porque Itamar Franco, por exemplo, contrariou a maior parte
dos objetivos de Fernando Collor, que por sua vez havia atropelado José
Sarney. E Fernando Henrique, que optou por caminhos opostos aos de
Itamar Franco? O Lula, de seu turno, botou o pé no freio das promessas
que o elegeram, conservando boa parte do catecismo de dependência
rezado pelo sociólogo.
Seria preciso que
José Serra encomendasse uma pesquisa a respeito do sentimento popular
diante de cada um dos presidentes da Nova República. Ficaria surpreso
ao verificar que no fundo de tudo existem duas vertentes, jamais um
único caudal: os progressistas e os conservadores. O diabo
será classificar o atual governo, Nirvana dos banqueiros e paraíso
dos pobres, mágica espetacular incapaz de durar muito...