DEPOIS DA VITÓRIA RAJOY DIZ QUE ESPANHOIS VÃO COMBATER A CRISE

PAULO MELO CORUJA NEWS

Espanhóis vão 'combater a crise', diz Rajoy após vencer eleições

Candidato socialista, Alfredo Pérez Rubalcaba, já reconheceu derrota.
Com 88,7% dos votos contados, o conservador Partido Popular venceu.

Do G1, com informações das agências internacionais
 
O líder e candidato do conservador Partido Popular (PP), Mariano Rajoy, afirmou neste domingo (20), após vencer as eleições gerais na Espanha, com ampla maioria absoluta, que os espanhóis "vão combater a crise", e anunciou um "esforço solidário" para "todos", assegurando que "não haverá milagres".
Segundo dados oficiais com base em 88,7% dos votos contabilizados, a direita espanhola obteve o melhor resultado de sua história, ao conquistar a maioria absoluta do Congresso dos Deputados com 44,4% dos votos e 186 cadeiras contra 28,6% dos votos e 110 cadeiras dos socialistas.
Mariano Rajoy com sua esposa, Elvira Fernandez, na sacada da sede do PP em Madri neste domingo, após a divulgação dos resultados parciais da eleição.  (Foto: AFP)Mariano Rajoy com sua esposa, Elvira Fernandez, na sacada da sede do PP em Madri neste domingo, após a divulgação dos resultados parciais da eleição. (Foto: AFP)
O Parlamento espanhol, que tem no total 350 cadeiras, saiu destas eleições com uma fragmentação de parte do Congresso dos Deputados em vários partidos minoritários, entre eles o Amaiur, a nova esquerda separatista basca, que em sua primeira legislatura obteve sete cadeiras.
"A Espanha é uma grande nação e o melhor que tem são os espanhóis, 46 milhões de espanhóis que vão combater a crise", afirmou Rajoy, antes de advertir:
Deixaremos de ser um problema para voltarmos a fazer parte da solução"
Mariano Rajoy
"Governarei a serviço da Espanha e de todos os espanhóis, procurando que em circunstância alguma alguém se sinta excluído da tarefa comum", disse.
"De minha parte não vão faltar nem a vontade, nem entusiasmo, nem o trabalho, nem o compromisso", mas "não haverá milagres. Não prometemos isso", acrescentou o futuro chefe de governo espanhol.
Concentrado na difícil situação na qual assumirá o comando do país, o líder conservador se referiu à União Europeia (UE) para dizer que a Espanha será "o mais leal, mas também o mais exigente dos sócios".
"Deixaremos de ser um problema para voltarmos a fazer parte da solução", insistiu Rajoy, que pôs entre suas prioridades a luta contra "o desemprego, o déficit, o endividamento excessivo, a paralisação econômica e tudo aquilo que mantém este país nestas circunstâncias críticas".
Derrota reconhecida
Mais cedo, neste domingo, o candidato socialista ao governo espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba, reconheceu neste domingo (20) a derrota do Partido Socialista Trabalhador Espanhol (PSOE) nas eleições gerais da Espanha e parabenizou, pela vitória, o opositor Partido Popular (PP).
"Claramente perdemos as eleições", lamentou Rubalcaba na sede central do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), em Madri, após conhecer os resultados parciais das eleições.
O líder do partido socialista, Alfredo Perez Rubalcaba, faz discurso após os primeiros resultados da eleição na Espanha. (Foto: Javier Soriano/AFP)O líder do partido socialista, Alfredo Perez Rubalcaba, faz discurso após os primeiros resultados da eleição na Espanha. (Foto: Javier Soriano/AFP)

"Conversei com Mariano Rajoy para transmitir meus cumprimentos e lhe desejar sorte na importante responsabilidade que vai assumir" como futuro líder de governo, acrescentou Rubalcaba.
O ex-número dois do derrotado governo socialista espanhol, afirmou que como oposição, "vamos trabalhar com todas as forças para conseguir a recuperação da economia e do emprego".
A primeira pesquisa de boca de urna publicada neste domingo, na Espanha, confirma o favoritismo do Partido Popular (PP), de direita, nas eleições. A vitória leva Mariano Rajoy, que faz oposição ao atual presidente do governo José Luis Rodríguez Zapatero, ao principal cargo na política do país.
Segundo a pesquisa da TNS Demoscopia, publicada pela rede de televisão pública TVE, o PP obteve cerca de 43,5% dos votos, o que renderá entre 181 e 185 assentos na câmara dos deputados e garantirá a maioria absoluta no sistema parlamentarista espanhol.
Mariano Rajoy, em evento de campanha em Oviedo, em 14 de novembro (Foto: Eloy Alonso/Reuters)Mariano Rajoy, em evento de campanha em Oviedo, em 14 de novembro (Foto: Eloy Alonso/Reuters)
Hoje no governo, o Partido Socialista Trabalhador Espanhol (PSOE), do candidato Alfredo Pérez Rubalcaba, conseguiu a preferência de cerca de 30% dos eleitores que foram às urnas, e deve ter entre 115 e 119 deputados no próximo parlamento, segundo a mesma pesquisa.
Partidos menores ficam com as cadeiras restantes. Ainda segundo a TNS Demoscopia, a coalizão Esquerda Unida (IU) alcança entre nove e 11 deputados. Já o grupo independentista basco Amaiur elege entre seis e sete deputados, o que garantiria sua entrada para o Parlamento espanhol com grupo próprio.
A pesquisa da TVE calcula entre 13 e 15 deputados aos nacionalistas catalães da Convergência e União (CiU), entre quatro e cinco aos nacionalistas bascos do PNV e entre três e quatros para a União Progresso e Democracia (UPyD), de centro.
Pouca presença nas urnas
Um total de 35.779.208 cidadãos estavam habilitados para participar do pleito, mas o comparecimento às urnas foi menor do que o das eleições de 2008.
Os 350 deputados e 208 senadores da décima legislatura comandarão o país durante os próximos quatro anos.
Rajoy, à esquerda, e Rubalcaba, à direita, votaram em Madri (Foto: AP)Rajoy, à esquerda, e Rubalcaba, à direita, votaram em Madri (Foto: AP)
Apuração
A apuração dos votos começou às 20h (17h em Brasília).
A eleição é feita com cédulas de papel com os nomes dos candidatos, assim como as eleições brasileiras de anos atrás. Depois de escolher o premiê, senadores e deputados, os eleitores colocam a cédula dentro de um envelope para, então, depositá-lo nas urnas.
No entanto, a contagem dos votos este ano promete ser mais rápida que as anteriores com a ajuda de palmtops – pequenos computadores portáteis – em todos os municípios com mais de 2 mil eleitores (86% do total).
Os presidentes das mesas usarão os aparelhos eletrônicos para enviar a contagem de cada colégio eleitoral. Isso aumenta a rapidez da apuração, já que não será necessário esperar que o representante leve os votos pessoalmente à central de cada região.
Eleitor maneja cédulas de votação espanholas (Foto: Reuters/Andrea Comas)Eleitor maneja cédulas de votação espanholas (Foto: Reuters/Andrea Comas)
Cenário
Com a crise econômica, as imagens do atual presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, e de seu partido, PSOE, se viram fragilizadas. As eleições, que deveriam acontecer em março de 2012, foram adiantadas para este domingo por Zapatero.
No governo desde 2004, Zapatero é acusado de falta de iniciativa para combater as consequências do problema. Principalmente o desemprego, que afeta hoje 20% da população economicamente ativa, ou seja, quase 5 milhões de espanhóis, superando a média europeia, que está em 9%.
No único debate entre os líderes dos principais partidos, os dois candidatos concordaram que a Espanha deve lutar contra o terrorismo do ETA (grupo terrorista do País Basco) e também em que o país pode sair da crise, mas de modos diferentes.
 
Mariano Rajoy afirma que não congelará as aposentadorias. Rubalcaba afirma que o adversário planeja abandonar a educação e saúde, forçando assim sua privatização. Ele diz que incentivará as pequenas e médias empresas que fizerem contratações com auxílio de dinheiro público e pedirá à União Europeia que estenda o prazo em dois anos para o pagamento da dívida espanhola.
O PSOE perde votos dos eleitores descrentes do partido depois do estouro da crise. Já o PP, apesar de perder votos por ser conservador e ser firmemente contra o casamento gay e o aborto, ganha votos dos eleitores que querem mudanças na Espanha, que é governada desde 2004 pelo Partido Socialista (PSOE).
Coadjuvante nessas eleições, o movimento 15-M, dos indignados espanhóis, mostrou em diversas passeatas e atos de protesto que não acredita que nenhum dos dois principais partidos os representa. Os indignados reuniram propostas de governo da população de todo o país que incluem a criação de um novo partido político para se candidatar às eleições.
Acampamento de indignados em Madri (Foto: Erica Chaves/Especial para o G1)Acampamento de indignados em Madri (Foto: Erica Chaves/Especial para o G1)
Histórico políticoAdolfo Suárez foi o primeiro presidente eleito de forma democrática na Espanha após a era Franco (1936-1975). Governou desde o ano de 1977, pelo partido União de Centro Democrático (UCD) de tendência direitista, até 1980, quando Leopoldo Calvo-Sotelo subiu ao poder depois de um golpe de estado que foi desmantelado em 1982.
O PSOE esteve à frente da Espanha desde o fim do golpe até 1995, com Felipe Gonzalez. Em 1996 José María Aznar (PP) ganhou as eleições para presidente, mas sem maioria na câmara dos deputados, precisou fazer alianças com partidos menores para governar.
Em 2004, depois de duros golpes ao partido conservador provocados pela má gestão do caso do ato terrorista que matou 192 pessoas e deixou outras 1847 feridas nos trens de Madri no dia 11 de março, José Luis Rodríguez Zapatero (PSOE) ganhou as eleições e se tornou presidente da Espanha, cargo que ocupa atualmente.