NOVO GOVERNO PARAGUAIO TERÁ PROBLEMAS

PAULO MELO CORUJA NEWS

PARAGUAI: MANIFESTAÇÕES E CENSURA A TV PÚBLICA

 

Visita de assessor de novo presidente provocou protestos de funcionários.
Diretor da emissora pediu demissão após impeachment de Lugo.

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Um grupo de cerca de 200 pessoas fez um protesto em frente à TV Pública do Paraguai, em Assunção, na noite deste sábado (23), contra o que consideram uma tentativa de censura à emissora estatal do país após a posse do novo presidente Federico Franco.

Com cartazes e gritos de “Ditadura nunca mais”, os manifestantes ocupam toda a rua em frente ao canal que transmite ao vivo, em rádio e TV, os discursos em um microfone aberto instalado na calçada.

“Estamos defendendo um direito. Não estamos defendendo nenhum partido ou ideologia. Estamos defendendo vozes”, diz o ex-diretor da emissora estatal, Marcelo Martinessi em seu discurso.
Junto com outros membros da TV estatal, Martinessi pediu demissão do cargo na sexta após o impeachment de Fernando Lugo, justificando que não sentia confiança no novo governo para continuar seu trabalho à frente da emissora. O pedido de demissão, com a equipe reunida, foi transmitido pela TV.

Após isso, a emissora recebeu a visita de um assessor do novo presidente, Christin Vásquez, que foi às instalações acompanhado de policiais e, segundo os funcionários de forma intimidadora, quis saber qual era a programação prevista pra o canal.
marcelo assunção paraguai lugo amauri (Foto: Amauri Arrais/G1)Marcelo Martinessi, ex-presidente da TV Pública do Paraguai, pediu demissão após o impeachment de Lugo e liderou neste sábado protesto contra o novo governo e a censura à emissora (Foto: Amauri Arrais/G1)
Em entrevista a outras emissoras locais, Vásquez disse que, como integrante do novo governo, só quis se inteirar da programação do canal público.
 
marcelo assunção paraguai lugo amauri (Foto: Amauri Arrais/G1)Manifestantes se reuniram em frente à TV pública
paraguaia em protesto contra saída de Lugo do poder
(Foto: Amauri Arrais/G1)
“Ontem (sexta) houve um atentado contra a liberdade [de expressão]”, disse o ex-diretor da estatal, que contou também ter recebido telefonemas de uma pessoa que dizia ser da Presidência pedindo que parassem de transmitir os protestos contra o impeachment de Lugo na Praça das Armas.
Mais cedo, durante a tarde, o novo ministro das Relações Externas do Paraguai, José Félix Estigarribia, disse que o recém-empossado presidente Federico Franco vai à Cúpula do Mercosul na cidade argentina de Mendonza, na próxima sexta-feira (29), e levantou a possibilidade de um encontro com a presidente Dilma Rousseff para explicar seus pontos de vista.
Na noite deste sábado, o governo da Argentina retirou do Paraguai o seu embaixador. Já o governo brasileiro afirmou, por meio de nota divulgada pelo Itamaraty, que convocou o embaixador do Brasil no Paraguai para consultas. O país também condenou o "rito sumário" de destituição do presidente Fernando Lugo na última sexta-feira (22).
info paraguai cronologia 23 (Foto: 1)
Desde que o mandato de Lugo foi cassado, governos de Argentina, Venezuela, Equador, Chile, Bolívia, México e Peru, Colômbia, Guatemala, Cuba e República Dominicana criticaram o processo de impeachment, alguns deles não reconhecendo o novo governo formado pelo vice-presidente que assumiu agora, Federico Franco.

Entretanto, o governo da Alemanha entendeu como"normal" o processo de impeachment, conforme o ministro de Cooperação Econômica e de Desenvolvimento da Alemanha, Dirk Niebel.
Crise
Federico Franco assumiu o governo do Paraguai na sexta-feira (22), após o impeachment de Fernando Lugo. O processo contra ele foi iniciado por conta do conflito agrário que terminou com 17 mortos no interior do país.
A oposição acusou Lugo de ter agido mal no caso e de estar governando de maneira "imprópria, negligente e irresponsável".
O processo de impeachment aconteceu rapidamente, depois que o Partido Liberal Radical Autêntico, do então vice-presidente Franco, retirou seu apoio à coalizão do presidente socialista.
A votação, na Câmara, aconteceu no dia 21 de junho, resultando na aprovação por 76 votos a 1 – até mesmo parlamentares que integravam partidos da coalizão do governo votaram contra Lugo. No mesmo dia, à tarde, o Senado definiu as regras do processo.
Na tarde de sexta-feira, o Senado do Paraguai afastou Fernando Lugo da presidência. O placar pela condenação e pelo impeachment do socialista foi de 39 senadores contra 4, com 2 abstenções. Federico Franco assumiu a presidência pouco mais de uma hora e meia depois do impeachment de Lugo.
Em discurso, Lugo afirmou que aceitava a decisão do Senado. Ele pediu que seus partidários façam manifestações pacíficas e que "o sangue dos justos" não seja mais uma vez derramado no país.